Justiça
NUNCA MAIS 1964
ZERO HORA 29 de março de 2014 | N° 17747
ARTIGOS
por Newton Alvim*
Vem aí o aniversário dos 50 anos do golpe militar e fico imaginando como é possível o surgimento de movimentos pelo Brasil, como ocorreram no sábado passado, em diversas cidades, na tentativa de reeditar aquela Marcha da Família que ajudou a motivar a queda da democracia. Tudo bem, são marchas à toa, pequenas mesmo, com todo o jeito de morrer na praia, mas onde está a memória de um dos capítulos mais lamentáveis da história do nosso país? Que desserviço é esse que estão prestando ao país, incentivando um novo tempo de tirania e tiranetes?
Depois da aventura de toda uma geração, com muitas marcas que jamais se apagam, onde está a repulsa contra ditaduras de todos os matizes? É por isso que a história deve sempre ser recontada, pois nossa memória é realmente falha, mostrando lados obscuros na perpetuação do legado contra o autoritarismo. Quem viveu aquele tempo sabe o que foi a luta de quem estava disposto a morrer – e muitos realmente sucumbiram, como bem sabemos e perpetuam as páginas da nossa história.
Hoje, os tempos são outros e se temos dúvidas e incertezas, pouca fé e incredulidade, usemos ao menos aquilo com que não contávamos na época: o voto. Apenas o voto. Façamos valer o ato de votar em quem pode mudar as coisas para melhor, para trazer o novo para um tempo de inabalável coragem de defender a democracia.
Tenhamos sabedoria de escolher em quem votar, driblando os passos de insensatez que vez e outra vemos por aí, como se nenhuma lição nos foi dada, como se tudo não passasse de um acontecimento irreal que durou pouco tempo. Na verdade, foi como um longo e tenebroso inverno, quando muitos foram presos e poucos eram soltos. Qualquer ditadura é sempre um legado do mal por destruir os afetos e as amizades que cercam a liberdade.
Pensemos em 1964 como uma ressaca, que vez e outra nos leva à deriva e não nos deixa entender direito o que houve realmente, tantos são os desastres existenciais e pesadelos incompreensíveis de jovens que amavam os Beatles e curtiam Chico Buarque e Geraldo Vandré. Eles queriam revolucionar o mundo que os cercava, mas antes de tudo desejavam viver pelo amor e pela paz, assim como pela liberdade, querendo acreditar nos sonhos mais delirantes.
Nunca mais algo como 1964, que o rito de passagem já foi feito e nos deixou sonhos difusos e mais nada, salvando-se a moral como herança imperdível. Nunca mais uma geração falida, que custou a se reerguer e traçar um novo rumo sem onipotência e messianismo. Nunca mais a amnésia crônica de que isso não ocorreu ou que foi algo banal e sem importância.
Nunca mais 1964, por haver, no futuro de todos nós, essa arma que não tínhamos em 1964: o sagrado ato de votar e mudar o nosso destino. Nunca mais a sensação de que tudo pode voltar. Nunca mais um golpe mortal para tentar apequenar ainda mais este país, depois de uma expiação de 50 anos.
*JORNALISTA
loading...
-
Retrospectiva 2015 – Servidores Tj-sc
Imagem do site www.aquiagoraeu.blogspot.com.br O ano começou com muitas esperanças e desejo de obtermos o tão sonhado Plano de Cargos e Salários, quando enfim, teríamos uma segurança quanto ao nosso futuro tanto...
-
Direito À DiferenÇa
ZERO HORA 04 de abril de 2014 | N° 17753 ARTIGOS por Diego Fanton Onzi* Quem utiliza redes sociais possivelmente constatou um vídeo que vem circulando pela internet sobre um professor de Direito da USP que estava comentando um livro que, possivelmente,...
-
Meio SÉculo Depois, Relembrar É Preciso
ZERO HORA 30 de março de 2014 | N° 17748 PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA Não é incomum se ouvir de quem não sofreu os horrores da ditadura que naquele tempo era melhor. Que não havia corrupção nem insegurança ou que o país crescia como um...
-
O Legado Perverso
ZERO HORA 30 de março de 2014 | N° 17748 ARTIGOS Flávio Tavares* O golpe de Estado nos acompanha até hoje como ferida e como espanto. Senti seus passos já antes daquele 1º de abril de 1964, na conspiração que se fazia à luz do dia. Eu...
-
1930 X 1964
Crédito: ARTE JOÃO LUIS XAVIER JUREMIR MACHADO DA SILVA - CORREIO DO POVO, 15/06/2012 Tenho dedicado alguns anos da minha vida à história contemporânea do Brasil. Para não morrer de tédio,...
Justiça