Justiça
LIBERDADE EXTREMISMO
ZERO HORA 23 de setembro de 2012 | N° 17201EDITORIAL
Uma charge pode acabar com o mundo.
A violenta reação islâmica às provocações ocidentais envolvendo o profeta Maomé comprova a advertência contida na frase inicial deste comentário. A vertiginosa evolução das tecnologias de comunicação e o risco permanente de uso de armas de destruição por grupos extremistas contribuem para manter acesa esta faísca do apocalipse. Visões antagônicas de mundo já não podem mais ser separadas por fronteiras físicas e culturais. Por isso, os choques são inevitáveis, como está ocorrendo agora entre a liberdade de expressão, reverenciada pelas democracias ocidentais, e o fundamentalismo religioso, quase uma filosofia de vida para populações inteiras em outras áreas do planeta.
A humanidade sempre conviveu com culturas antagônicas. Mas a globalização e a comunicação instantânea aproximaram todos os povos, evidenciando divergências e elevando o potencial de conflitos. Em tempos de redes sociais, qualquer indivíduo tem poder para causar embates diplomáticos e bélicos. Veja-se, por exemplo, o que está acontecendo agora por conta de um filme de quinta categoria, produzido nos Estados Unidos. Bastou a divulgação de um trecho da referida produção pela internet para que religiosos radicais tomassem conhecimento e promovessem uma reação furiosa, que já provocou cerca de três dezenas de mortes e abalos na diplomacia entre paí- ses ocidentais e islâmicos.
Foi uma provocação irresponsável, sem dúvida, ainda que a liberdade de expressão – na visão dos países democráticos – permita tais ações. O governo francês não conseguiu evitar esta semana que a revista Charlie Hebdo voltasse a publicar charges do profeta Maomé. Em vez disso, as autoridades governamentais tiveram que reforçar a segurança de sedes diplomáticas e fechar embaixadas, escolas e consulados franceses em duas dezenas de países no mundo árabe, para proteger seus representantes de possíveis reações. O argumento do editor da revista é de que a liberdade de expressão não pode se submeter à pressão de “um punhado de extremistas”.
Os assassinatos de ocidentais e as depredações de embaixadas e empresas estrangeiras são ações inaceitáveis. Mas a liberdade também deve ser limitada pela responsabilidade. Seria, no mínimo, sensato que os ocidentais não tentassem impor sua visão de mundo a povos que pensam diferente, a não ser pela estratégia suave da informação, do conhecimento e do convencimento. Evidentemente, é desejável que a humanidade transite do obscurantismo para a razão, como vem fazendo desde o início dos tempos, mas cada povo tem o direito de trilhar o seu próprio caminho, no seu próprio ritmo, de acordo com sua história e com seus costumes.
O leitor concorda
O editorial ao lado foi publicado antecipadamente no site e no Facebook de Zero Hora, na sexta-feira. Os comentários selecionados para a edição impressa mantêm a proporcionalidade de aprovações e discordâncias. A questão proposta aos leitores foi a seguinte: Editorial diz que provocações irresponsáveis comprometem a liberdade de expressão. Você concorda?
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Concordo com o editorial. A vida de inúmeras pessoas não pode ser o preço pago por minha liberdade de expressão. Não posso reduzir minha responsabilidade ao tratar de um assunto tão polêmico a, simplesmente, orgulho e soberba de provocar pessoas radicais, visando a notoriedade. Quanto mais combatidos, mais arraigados em suas convicções se tornam. Ada Rebesco, Porto Alegre (RS)
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A liberdade de expressão não deve servir de pretexto para desrespeitos, comentários infelizes, ataques pessoais e a religiões. O limite é uma fronteira frágil, virtual. Não deve ser ultrapassada e ferir suscetibilidades.José Álvaro Seibel, Santa Rosa (RS)
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Comprometem não só a liberdade de expressão, como a paz entre povos, entre seres humanos em geral, em todos os setores de nossa vida. Responsabilidade é a palavra da vez, pois gera atitudes, comprometimento!Nilva N. Câmara, Porto alegre (RS)
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Concordo, e realmente o tema responsabilidade x liberdade é importantíssimo nesse contexto. A liberdade é como as redes sociais, será realmente necessário noticiar tudo? É outro limiar da informação a necessidade de informar x a futilidade das notas ou privacidade.Leandro Dambrós, Caxias do Sul (RS)
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Concordo plenamente. O respeito à crença e costumes, quaisquer que sejam, deve ser preservado. A convivência pacífica está fundamentada no respeito. Não vejo nenhuma criatividade, graça, vantagem ou mérito em se promover às custas de provocação e da insatisfação de alguém. Não vejo como atingir a paz no mundo se não forem respeitados os povos, as crenças, os costumes, os ideais...André Tavares, Florianópolis (SC)
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Concordo e acho que liberdade de expressão não é conquista absoluta que permita expressar absurdos que comprometam até a vida de quem não tem nada com isso! Provocação gratuita é um excesso criminoso desta mesma liberdade! Décio A. Damin, Porto Alegre (RS)
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A tal liberdade de expressão, deve-se ter muito cuidado. A gente acha que pode dizer tudo, se manifestar do jeito que quer, e a verdade é outra, existem consequências. Se queremos fazer o que que bem desejamos, temos que estar preparados para possíveis manifestações.Anelise dos Reis,Taquari (RS)
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Concordo. O exercício da liberdade de expressão deve levar em conta o respeito a outras culturas, e assim estabelecer alguns limites. Certamente também há tabus na nossa cultura que são pouco mencionados para não gerar polêmica. Portanto, devemos respeitar mais os costumes muçulmanos – mesmo que eventualmente não concordemos com eles.Ricardo Bruno Boff, Faxinal dos Guedes (SC)
O leitor discorda
Não concordo. A liberdade de expressão foi conquistada exatamente desafiando questões de represálias, ditaduras e extremismos, semelhantes aos que ocorrem agora. A diferença é que, no início, buscava-se o direito de informar o que realmente estava acontecendo, e não mascarado da maneira que melhor convinha aos interessados, e hoje, essa liberdade pode até ser confundida com a sensação de termos o direito de mostrar ou falar de quem ou o que quisermos, de qualquer maneira, sem pensar na repercussão.Juliano Pereira dos Anjos, Esteio (RS)
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