Justiça
EXEMPLO: BOGOTÁ EM TRANSFORMAÇÃO
INSPIRAÇÃO LATINA. Em transformação - PIETRO RUBIN, colunista do jornal Pioneiro, viajou a Bogotá na última semana a convite da Marcopolo para conhecer o transporte coletivo da capital colombiana.
Quem anda pelas ruas de Bogotá percebe claramente que a capital colombiana está em processo de transformação. Obras vultosas de bancos e grifes mundialmente famosas contrastam com prédios simples, a maioria de tijolos à vista. Pelas ruas, dezenas de canteiros de obras demonstram que a cidade procura se modernizar aos seus mais de 7 milhões de habitantes.
Dentro dessa modernidade está o transporte coletivo de Bogotá, referência para diversas cidades da América Latina com o sistema de BRTs (trânsito rápido de ônibus, na sigla em inglês). São duas vias exclusivas para ônibus articulados e biarticulados em cada sentido das principais avenidas, o que permite o cumprimento dos horários. Por dia, 1,8 milhão de pessoas viajam nesses veículos de grande porte que, assim como a cidade, são limpos e bem-cuidados.
Por outro lado, ainda há os micro-ônibus. Os veículos, que são marcas da cidade, transportam passageiros fora das linhas principais. São carros de menor porte, antigos, sujos, que poluem muito e andam superlotados. Em 2000, eram 22 mil. Substituídos por modernos, hoje são 16 mil e, em dois anos, a previsão é de que sejam 11 mil.
Por enquanto, os micro-ônibus ainda compõem um trânsito problemático, que era muito pior antes dos BRTs, dizem os moradores. É provável que, quando estiver encerrada a substituição desses veículos antigos, Bogotá também tenha terminado a transformação em uma das modernas capitais do mundo.
“As sociedades são difíceis. Têm oscilações” - Paul Bromberg, ex-prefeito de Bogotá
Prefeito de Bogotá entre abril de 1997 e 1998, Paul Bromberg, 59 anos, foi um dos idealizadores do programa que transformou a capital da Colômbia com ações focadas na população. Professor de Governo Urbano da Universidad Nacional de Colombia, Bromberg concedeu entrevista a ZH por e-mail:
Zero Hora – Quais foram os resultados das ações em Bogotá?
Paul Bromberg – Em quase todos os projetos tivemos melhorias no cumprimento das normas. Nunca total, claro. É preciso lembrar que nem todos os comportamentos irregulares foram alvo de intervenções. Uma das lições que tiramos é que é preciso estudar com cuidado cada assunto para que as ações de governo tenham expectativas de sucesso. Uma enquete feita com a população em 1998 (três anos depois do início das ações) mostrou que grande parte das pessoas tinha a percepção de que o cumprimento de normas havia melhorado. E esse é o caminho para melhorar.
ZH – Em Porto Alegre e em outras cidades do Rio Grande do Sul, há muito vandalismo. Como acabar com isso?
Bromberg – É muito difícil. Todas as cidades do mundo têm vandalismo sobre os bens públicos. É preciso conhecer profundamente como surge esse fenômeno. Posso garantir que uma campanha publicitária que diga “Curta Porto Alegre, não destrua os bens de todos” não vai ter nenhum efeito. A cultura cidadã não é um remédio para todos os males.
ZH – Em Porto Alegre, a prefeitura está conclamando a população a cuidar da cidade, inspirada na experiência de Bogotá. Que experiências podem ser adotadas aqui?
Bromberg – Não se pode adotar nada mecanicamente. Eu repito: uma campanha de “curtir a cidade”, sem nada concreto, não produz resultado. A experiência de outras cidades é importante para levar adiante uma mudança cultural. Mas advirto: é muito difícil. Um bom número de programas nossos não teve bons resultados. As sociedades são difíceis, têm oscilações.
ZH – Alguns pensam que os problemas são os outros, que as soluções dependem dos governosPor quê?
Bromberg – As pessoas costumam achar que os outros é que fazem coisas erradas. Ante a essa expectativa, de que os outros não vão cumprir seu papel, as pessoas se adiantam e se portam mal. Mas a culpa “é dos demais”. Era assim também em Bogotá, mas, depois de três ou quatro anos, essa percepção havia mudado. Nisso, o papel das autoridades é importantíssimo. Os cidadãos têm um pouco de razão quando culpam as autoridades, e o pior erro é responder à acusação dizendo que “Não, a culpa é de vocês”. É preciso a ação das autoridades, mas essa ação deve ser inteligente e deve sempre ter um enfoque educativo.
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