Justiça
A REJEIÇÃO AOS PROTESTOS
ZERO HORA 25 de fevereiro de 2014 | N° 17715
EDITORIAIS
Pesquisa do Instituto Datafolha divulgada ontem revela que o apoio às manifestações de rua no país caiu para o mais baixo índice desde junho do ano passado. Logo depois que multidões saíram às ruas na metade do ano passado, com um amplo leque de reivindicações, o índice de apoio aos protestos chegou a alcançar 81% dos entrevistados. Agora, apenas 52% das pessoas ouvidas pela pesquisa continuam apoiando as manifestações, com restrições à violência e a atos durante a Copa embora a aprovação ao Mundial também tenha caído bastante.
O que isso significa? Em primeiro lugar, uma inequívoca rejeição às agressões e às depredações praticadas por minorias infiltradas nas manifestações, notadamente o movimento autodenominado Black Blocs. A pesquisa foi feita nos dias subsequentes à morte do cinegrafista Santiago Andrade, numa manifestação em São Paulo. Mas nota-se, também, um desconforto dos brasileiros em relação aos protestos contra a Copa do Mundo. Ainda que a maioria questione os gastos exagerados e a utilização de dinheiro público nas obras, não se pode esquecer que o Brasil festejou o direito de receber a competição da Fifa. Além disso, o povo brasileiro ama futebol e já não há mais como voltar atrás na promoção do grande evento esportivo. Então, no momento em que as manifestações centram seu foco na Copa do Mundo, o apoio aos protestos se retrai.
O outro ponto visado pelos ativistas é o transporte público, que ainda atrai apoiadores. Há, realmente, um descontentamento geral em relação à qualidade dos serviços. Por isso, cada vez que é anunciado um reajuste de tarifas, as pessoas se revoltam e veem nas manifestações um instrumento legítimo de pressão. Porém, quando há queima e depredação de ônibus, os usuários também se sentem prejudicados.
Por fim, a constatação de que os protestos não são espontâneos – e sim organizados por grupos com interesses diversos, inclusive com motivações políticas – também provocou deserções entre pessoas que lutam por causas coletivas, sem atrelamentos a corporações. Aí, porém, é preciso estabelecer uma diferenciação clara entre ativistas profissionais e integrantes de sindicatos, partidos políticos e outras organizações que se manifestam pacificamente e também defendem demandas da população.
A interpretação mais interessante que se pode fazer desta pesquisa é a de que os brasileiros estão a cada dia mais conscientes do que querem e melhor informados sobre os segmentos sociais que pretendem representá-los. Apoiar e rejeitar são exercícios inequívocos de cidadania.
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