EDITORIAL
Um ano depois da eclosão dos protestos de rua que, a partir de junho do ano passado, mexeram com a vida do país em muitos aspectos, as mobilizações populares mudaram de perfil, enquanto os manifestantes lembram cada vez menos os do período inicial. E, apesar de algumas conquistas importantes registradas desde então, muitos pleitos continuam sem resposta. Por isso, é positivo que os porta-vozes das reivindicações parte dos quais afastada das ruas pela discordância com a violência dos protestos continuem aperfeiçoando sua pauta. Desde que de forma pacífica, os manifestantes precisam preservar suas bandeiras, na maioria dos casos em favor de um Brasil mais ético, mais justo e mais eficiente sob o ponto de vista dos cidadãos.
Deflagrado majoritariamente por jovens usuários das redes sociais inconformados com a má qualidade do transporte público, o movimento ganhou logo adeptos em todas as faixas sociais e etárias. O resultado imediato foi maior transparência e até mesmo revisão nas tarifas. Ficaram faltando as mudanças na forma como as concessionárias operam, mas a conquista inicial foi suficiente para ampliar a pauta. A vitória da Seleção Brasileira de Futebol na Copa das Confederações, realizada em meio aos protestos iniciais, não foi suficiente para livrar a Fifa e o próprio governo de se transformarem em alvo permanente de críticas. A partir daí, as reivindicações passaram a se concentrar em mais qualidade dos serviços públicos, particularmente os mais degradados.
De junho do ano passado até o deste ano, os avanços mais visíveis são os relacionados a maior transparência e mais simplicidade em processos relacionados tanto ao setor público quanto ao privado. A sensação de insegurança se mantém, o debate sobre as ações necessárias para a educação continua e as providências na área de saúde pública limitam-se a ações de maior visibilidade e resultados ainda não devidamente comprovados, como o Mais Médicos. De 25 projetos surgidos como resposta ao clamor das ruas, apenas sete viraram leis.
Um ano depois, a maior conquista dos manifestantes foi o seu próprio amadurecimento, com reflexos positivos sobre a agenda de mudanças para o país. Escanteada dos atos públicos pela violência dos black blocs, a classe média recolheu seus cartazes. Com isso, esvaziou as mobilizações, cedendo espaço a grupos organizados reduzidos, que hoje se valem mais do barulho e, em muitos casos, de métodos violentos, focados em causas menores e na inútil rejeição à Copa. Ainda assim, o balanço do período é positivo. As autoridades passaram a ver os movimentos sociais com mais respeito, houve avanços éticos na política e os cidadãos descobriram o poder de usar organizadamente as novas ferramentas de comunicação, com ganhos evidentes para a cidadania.