Justiça
PROTESTOS SEM VANDALISMO
ZERO HORA 10 de junho de 2013 | N° 17458
EDITORIAIS
Pichações, danos a prédios e equipamentos públicos, carros e ônibus depredados, além de confrontos entre manifestantes e policiais, vêm marcando os protestos públicos contra a elevação de tarifas urbanas em algumas cidades brasileiras. Numa democracia, as forças de segurança têm que ser tolerantes com as manifestações coletivas, mas dentro do limite da manutenção da ordem pública. Protestar é um exercício de cidadania, mas a destruição do patrimônio alheio, seja ele privado ou público, é puro vandalismo e isso não pode ser aceito como normal.
O que ocorreu recentemente em Porto Alegre repete-se agora em São Paulo, com um grau ainda maior de conflito. Na semana passada, manifestantes e policiais ficaram feridos depois de confrontos de rua que também resultaram em prédios e veículos danificados, bloqueio de trânsito e até a destruição de uma banca de revistas. A polícia reagiu com bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e efetuou pelo menos 15 prisões. O pano de fundo do enfrentamento é o mesmo: inconformismo de setores da sociedade, especialmente de estudantes e militantes políticos, com a elevação das tarifas do transporte urbano.
No rastro dessa insatisfação, que é legítima, vêm se formando no país movimentos que se dizem apolíticos, mas que abrigam os integrantes mais radicais das organizações partidárias. Sob denominações criadas ao sabor do momento, esses grupos congregam ao mesmo tempo cidadãos bem-intencionados e profissionais da desordem, que muitas vezes se aproveitam da ocasião para levar à prática seus maus instintos. É uma pena, pois o vandalismo desmerece até mesmo causas nobres, que poderiam contar com a simpatia da população.
A questão das tarifas públicas merece mesmo ser acompanhada de perto pela sociedade, seja através da representação parlamentar ou mesmo de forma direta, por indivíduos e movimentos sociais. Mas precisa ser analisada com mais tecnicismo e menos emocionalismos. Se temos inflação, se os insumos necessários à execução do serviço de transporte sobem com frequência, é justo que os preços das tarifas sejam periodicamente revisados, porém dentro de critérios transparentes e acessíveis aos usuários. Protestar, cobrar dos governantes e chamar a atenção da população para injustiças são ações democráticas. Porém, sujar prédios públicos, quebrar vidraças e depredar equipamentos são atos de irracionalidade que só depõem contra aqueles que os praticam.
Fica evidente, portanto, que os protagonistas da baderna precisam ser contidos, até mesmo para que os cidadãos conscientes, que querem usar o direito constitucional de questionar seus governantes, possam ser ouvidos melhor e transformar seus pleitos em causas coletivas.
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