TEORIA CONSPIRATÓRIA TOMA CONTA DA REDE
Justiça

TEORIA CONSPIRATÓRIA TOMA CONTA DA REDE



Blogs e redes sociais são tomados por teorias conspiratórias sobre a morte do cinegrafista da Band. Jovem mostrado em vídeo na internet se identifica e diz que pedia que polícia não lançasse gás lacrimogêneo

O GLOBO
Atualizado:14/02/14 - 11h43



À esquerda, Caio Silva de Souza, correndo após acender rojão que atingiu cinegrafista; à direita, Tomaz; cores de sapatos e camisa revelam diferenças entre jovens Montagem foto Agência O Globo e imagem TV Globo


RIO — A explosão do rojão que matou Santiago Andrade está dando pano para manga na internet. São teorias conspiratórias sem respaldo nas investigações policiais nem na opinião de peritos, como a de que Caio Silva de Souza, indiciado pela morte de Santiago de Andrade, teria recebido a culpa por estar com a mesma roupa de quem realmente teria colocado o artefato aceso no chão. Caio confessou que acendeu o rojão em entrevista à TV Globo, quando voltava da Bahia, onde foi preso.

Por quê? É uma das perguntas que o responsável pelo blog "A verdade nua e crua" faz, e não responde. Para sustentar a tese, publica um vídeo em que aparece uma outra pessoa com calça jeans e blusa cinza, e levanta a questão: "Quem é ele que se vestia com a mesma roupa do Caio e que está ao lado da polícia?", sugerindo que o detonador seja um PM infiltrado.

No entanto, o jovem que está no vídeo conversando com policias no protesto do dia 6, quando Santiago foi atingido, se identificou, em seu perfil no Facebook, como Tomaz Cesario Alvim Martinelli. Ele publicou um desabafo com o título: "Virei Bandido !?!?!". Tomaz confirmou que estava participando da manifestação. Porém, no momento da imagem, ele explicou que estava pedindo à polícia que parasse de atirar bombas de gás lacrimogêneo na direção das pessoas que ajudavam Santiago Andrade.

"Mas o que mais me incomoda é esse circo que se montou, em que no centro do picadeiro se apresenta o trágico incidente do cinegrafista da Band Santiago Andrade, em que eu aparentemente fui arrastado quando divulgaram fotos minhas com legendas bizarras e sem sentido", afirmou Tomaz.


Post dizia que Caio está se sacrificando

O post que mostrava Tomaz como a pessoa que acendeu o rojão suscitou 65 comentários até o fim da tarde de quinta-feira. Um deles diz: "a verdade é que o rapaz que soltou o rojão não é este que esta sendo prezo (sic). Por algum motivo, este rapaz está se sacrificando".

A imagem de Caio correndo de costas no canto direito da foto mais divulgada do crime fez muita gente achar que o biotipo dele não correspondia ao retratado. Mas a lente usada pelo fotógrafo é uma grande angular, côncava, o que distorce os cantos da imagem. Daí a impressão de ele ser “maior”, ou “mais encorpado”.

Perito comprova que Caio realmente colocou o rojão no chão

Em entrevista ao "Jornal Nacional", da TV Globo, de quinta-feira, o perito Nelson Massini examinou as imagens que levaram a polícia à identificação de Caio. Analisando fotos e vídeos registrados antes e depois da explosão, o especialista confirmou, tecnicamente, que o homem que acendeu o rojão é o autor confesso.

Sobre as dúvidas levantadas na internet, Nelson Massini destacou a presença de pelo menos quatro elementos que, para o perito, permitem a identificação de Caio: um relógio, uma pulseira, a calça desbotada e o tênis. A aparência mais forte seria uma distorção de imagem, "provavelmente pela camisa, um pouco mais solta, o movimento dele de corpo, o ângulo que a foto foi tirada".

- Iisso não deixa a menor dúvida de que é ele. Nós temos uma foto em que praticamente todo mundo está fora do peso. Inclusive o Caio. Dá a impressão que é mais gordo, está inclinado. Mas eu não tenho dúvidas - afirmou Massini.

Massini também analisou a imagem de Tomaz. Segundo o perito, o sapato dele é de uma coloração diferente, a calça tem um formato descolorida diferente, a camisa é cinza, mas é um cinza homogêneo, por igual, não tendo a transpiração impregnada. Além de corte de cabelo diferente, ausência do relógio e a cor da pele mais clara.

Foto com uniforme integralista

Na página do Black Bloc, há quem vá além: "não entendi a morte deste jornalista. Será que ele não foi assassinado no hospital para acabar com os protestos? Outra coisa: se doaram os orgões (sic) dá para fazer investigação da causa provável de sua morte?".

Alguns compartilham em redes sociais uma foto de três rapazes, um parecido com Caio, usando uniformes com o símbolo do integralismo. "Será que ele não faz parte do grupo de integralistas que espancaram e acorrentaram um menor no Flamengo?", especula um internauta.

Outro post que faz sucesso é o dos "10 passos de uma história que não deve nada ao carro explodido pela ditadura no Riocentro".

Corpo a corpo

Maria Elisa Alves 

‘O risco é punir quem não fez nada’

Coordenador da FGV Direito Thiago Bottino diz que projetos de lei em estudo vão dificultar manifestações

É possível criar uma legislação que coíba os excessos em protestos, mas que não ameace o direito de se manifestar?

É um equilíbrio delicado. E, além disso, os projetos de lei em discussão descrevem comportamentos para os quais já existem punições. Já há penas para quem comete lesão corporal, tumulto, homicídio. O que querem agora é tornar mais fácil punir, mas estão alargando tanto a definição de crime que o risco é punir quem não fez nada.

A ação da polícia pode se tornar mais arbitrária?


Exatamente. Como prender uma pessoa só por ela estar de máscara? Todo mundo que correr vai estar provocando tumulto e será detido? O tal Batman, que apareceu em vários protestos, vai ser um criminoso? Ele pode ter uma fantasia boba, mas nada além.

Como conter, então, a violência?

Esses projetos aparecem porque a polícia não consegue investigar. É mais fácil para ela prender todo mundo de máscara do que cercar o perímetro, tentar identificar quem porta armas. O Estado pode tornar tudo tão difícil que os protestos podem perder força. E eles são necessários numa democracia.




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