Jovem admite à polícia ter passado a outro manifestante rojão que atingiu cinegrafista. Fábio Raposo admite que é ele quem aparece de bermuda preta em fotos e vídeos feitos durante o protesto, mas nega ter lançado o artefato. Rapaz e um segundo suspeito serão indiciados por tentativa de homicídioO GLOBO
Atualizado:8/02/14 - 12h04
Fábio Raposo em entrevista à TV e, à direita, ele aparece de bermuda durante protesto, após rojão ter sido lançado Reprodução GloboNews/Agência O Globo
RIO - Um dos jovens acusados de ter participado do lançamento do rojão que atingiu a cabeça do cinegrafista da Bandeirantes Santiago Ilídio Andrade, durante protesto na Central do Brasil, quinta-feira passada, apresentou-se na 16 DP (Barra) na madrugada deste sábado. Fábio Raposo, que aparece em imagens feitas pela imprensa usando bermuda preta, disse que encontrou o artefato no chão e repassou para o outro homem que aparece em fotografias usando calça jeans e camisa cinza suada nas costas. O suspeito está sendo procurado pela polícia, que procura imagens de câmeras de segurança da região, que possam ajudar nessa identificação.
Fábio contou em depoimento, acompanhado por advogado, que não foi o responsável pelo lançamento, e que não conhece o outro jovem. Segundo o delegado titular da 17 DP (São Cristóvão), Maurício Luciano, que investiga o caso, apesar de ele alegar que não acionou o explosivo, foi indiciado por tentativa de homicídio e pelo crime de explosão. Em entrevista à GloboNews, Fábio admite que era ela o jovem de bermuda preta, identificado nas imagens:
- Sim, era eu. As fotos que foram apresentadas nas mídia era eu sim. Eu era o de camisa, bermuda e tênis, com tatuagens. Era eu passando o artefato sim, para o outro indivíduo, mas o artefato não era meu, Quero deixar isso bem claro. O artefato não era meu.
O rapaz conta que estava na manifestação, viu uma confusão, foi lá conferir e viu um artefato cair.
- Quando cheguei houve um corre-corre, fui ver o que estava acontecendo, estava havendo confronto entre PMs e manifestantes. Como estavam jogando bombas de gás, coloquei a máscara para minha proteção. Fui até lá ver confronto e, neste momento, vi que um rapaz correndo deixou uma bomba cair, um negócio preto. Eu peguei e fiquei com ela não mão. Este outro cara disse: passa para mim que eu vou e jogo. Foi só isso - afirmou à GloboNews.
Segundo o jovem, ele não teve em nenhum momento intenção de machucar ninguém.
- Em momento algum vou para manifestações para quebrar coisas, bater em polícia, jogar pedras. Não fui eu. Não tive a intenção de machucar nenhum repórter. Estou vindo aqui porque estou assustado por minha foto ter sido divulgada em mídias internacionais. Inclusive recebi até ligações de pessoas deconhecidas, de manifetantes, de grupos, pedindo para eu assumir o caso e falar que fui eu, tentando me obrigar - contou.
Ele pediu desculpas à família do cinegrafista:
- Quero o bem do repórter que está em coma. A família dele. Não sei o que falar. Melhoras aí para ele.
Também em entrevista à Globonews, Maurício Luciano disse que Fábio esteve na delegacia às 4h da manhã:
- Ele disse que achou o artefato e ficou carregando durante a manifestação e que o segundo elemento pediu. Disse que entregou para ele e que o outro rapaz colocou no chão e acendeu - afirmou o delegado.
O titular da 17ª DP, no entanto, não acredita na versão do rapaz e afirma que os dois serão indiciados por tentativa de homicídio, já que a polícia viu nas imagens que ele o outro jovem agiam em conjunto, caminhando lado a lado.
- O depoimento dele sobre a não participação e sobre não conhecer o outro jovem não é verossímel - disse.
Fotógrafo flagrou rapazes no Centro
Um fotógrafo da Agência O GLOBO viu e registrou o homem que acendeu o artefato que atingiu a cabeça do cinegrafista . Na imagem, ele está de camisa cinza e aparece correndo, segundos após a ativação do explosivo. A imagem também mostra um jovem de bermuda preta, que teria envolvimento na ação.
— Eu estava acompanhando o protesto, quando vi um homem de calça jeans, camisa cinza e com lenço preto no rosto, abaixando e acendendo o fogo de artifício que estava no chão. Logo após, ele sai correndo. Consegui fazer a sequência do artefato atingindo o cinegrafista. A intenção de quem disparou era acertar os policiais que corriam na direção do grupo de manifestantes — disse o fotógrafo da Agência O GLOBO.
O cinegrafista foi atingido durante um protesto contra o reajuste das passagens na Central do Brasil, no fim da tarde desta quinta-feira. O estado de saúde dele é muito grave, segundo a Secretaria municipal de Saúde informou na manhã desta sexta-feira.
O governador Sérgio Cabral lamentou, durante a inauguração da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Complexo da Mangueirinha, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, ocorrido com o cinegrafista.
Segundo a Polícia Civil, 28 pessoas foram detidas e levadas para quatro diferentes delegacias. Vinte foram para a 19ª DP (Tijuca), sendo que duas responderão pelos crimes de desacato e resistência. Elas assinaram o termo circunstanciado e responderão em liberdade. Das 11 pessoas levadas para a 17ª DP (São Cristóvão), uma pessoa foi autuada por dano ao patrimônio público e outras duas por porte de drogas. Com a dupla foi apreendida uma pequena quantidade de cocaína e maconha. Uma pessoa foi detida e autuada na 5ª DP (Centro) por crime de tentativa de lesão corporal, após arremessar uma pedra contra um policial militar. Ela assinou termo circunstanciado e responderá pelo crime em liberdade.
Roupas do cinegrafista foram encaminhadas para perícia no Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE). Técnicos vão auxiliar na busca de provas técnicas para traçar a linha de deslocamento do artefato.
Além do cinegrafista, cinco pessoas ficaram feridas. Dois policiais militares foram atingidos por pedradas, mas sem gravidade, e três pessoas feridas foram socorridas no Hospital Souza Aguiar.
O protesto, que começou pacífico na tarde desta quinta-feira, se transformou num confronto entre manifestantes e policiais na Central do Brasil, com cenas de vandalismo dentro e fora da estação de trens. Policiais atiraram bombas de gás e de efeito moral contra o grupo de aproximadamente 800 pessoas, que reagiu lançando artefatos.
Imagens da agência de notícias russa Ruptly mostram o cinegrafista atingido por artefato. Veja no site do G1.
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