JORNAL DO COMÉRCIO 19/09/2014
EDITORIAL O Rio Grande do Sul tem aderido ao revisionismo histórico e ao enfrentamento com viés ideológico antes do que com argumentos racionais. Até mesmo a Revolução Farroupilha, símbolo máximo do que há de melhor entre os feitos dos gaúchos desde o início da colonização da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, não foi poupada. No entanto, para os tradicionalistas, o tema não chega a empolgar. Às vezes é totalmente ignorado o que, a rigor, está certo. Não se reescreve a história. É que cada um de nós contribui com o seu contingente para o acervo da ciência humana. Infelizmente, este acervo compõe-se, geralmente, de mais erros e fábulas do que de verdades. Pois a Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha são os nomes pelos quais ficou conhecido o movimento armado ou guerra regional, de caráter republicano, contra o governo imperial do Brasil. O movimento levou à independência da província, dando origem à República Rio-Grandense. Estendeu-se de 20 de setembro de 1835 a 1 de março de 1845.
A revolução influenciou ações que ocorreram em outras províncias brasileiras, como a Revolução Liberal, em São Paulo, em 1842, e na revolta denominada Sabinada na Bahia, em 1837, ambas de ideologia do Partido Liberal da época. Chegou a expandir-se à costa brasileira, em Laguna, com a proclamação da República Juliana e ao planalto catarinense de Lages. Teve como líderes o general Bento Gonçalves, general Netto, coronel Onofre Pires, coronel Lucas de Oliveira, deputado Vicente da Fontoura, Pedro Boticário, general David Canabarro, coronel Corte Real, coronel Teixeira Nunes, coronel Domingos de Almeida, major Vicente Ferrer de Almeida, coronel Domingos Crescêncio de Carvalho, general José Mariano de Mattos, general Gomes Jardim. Também teve inspiração ideológica de italianos da Carbonária refugiados, como o cientista e tenente Tito Lívio Zambeccari, e o jornalista Luigi Rossetti, além do capitão Giuseppe Garibaldi, que embora não pertencesse a Carbonária, esteve envolvido em movimentos republicanos na Itália.
A questão da abolição da escravatura também esteve envolvida, organizando-se exércitos, contando com homens negros que aspiravam à liberdade. Há quem sustente que houve um massacre dos escravos que lutavam ao lado dos farroupilhas quando a derrota se tornou inevitável e o movimento se esvaía, sem mais recursos, armamento e combatentes, além da superioridade militar do Império do Brasil. Mas o que fica para as gerações que se sucederam são os ideais republicanos, atos de heroísmo e a certeza de que o Brasil teve a sorte de contar, por 50 anos, com Dom Pedro II e seus preceptores na condução dos negócios de interesse da nação. Enquanto a América Espanhola se desintegrava do México até a Patagônia, Portugal manteve unida a colônia. Depois, Dom Pedro II e Duque de Caxias não permitiram, com muita habilidade política e também pela força das armas, impedir que a mesma fragmentação ocorresse no Brasil. Os farrapos lutaram por ideais, mas eles jamais apagaram do peito o coração pulsante pelo Brasil. Hoje, dá orgulho ver-se quando dos desfiles tremulam, lado a lado, a bandeira nacional e a da República Rio-grandense.
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