GAÚCHOS RESPONSABILIZADOS POR CRIMES DA DITADURA
Justiça

GAÚCHOS RESPONSABILIZADOS POR CRIMES DA DITADURA


ZERO HORA 10/12/2014 | 20h15

Quem são os gaúchos responsabilizados por crimes da ditadura. Militares e policiais que nasceram ou agiam no Estado foram apontados pela Comissão da Verdade como autores de violações de Direitos Humanos

por Marcelo Gonzatto



Em março, manifestantes protestaram diante da casa do delegado Pedro Seelig, um dos citados no relatório Foto: Diego Vara / Agencia RBS

A lista de 377 agentes públicos citados no relatório da Comissão Nacional da Verdade por violações contra os Direitos Humanos inclui pelo menos duas dezenas de nomes reconhecidamente ligados ao Rio Grande do Sul (veja lista abaixo).

São gaúchos que tiveram papel fundamental na organização do sistema repressor no país durante a ditadura militar, incluindo presidentes e ministros, ou servidores do regime lotados no Estado com atuação na linha de frente da caça aos opositores — a listagem oficial, porém, não detalha o local de nascimento ou atuação de todos os responsabilizados.

A análise do relatório confirma o papel estratégico representado pelo Rio Grande do Sul no combate aos adversários do governo militar. Além de montar um eficiente sistema regional destinado a sufocar rebeldes, estruturado por policiais e militares sob coordenação da Secretaria Estadual da Segurança, o Estado forneceu nomes de alta patente para cargos de poder no país que, segundo o relatório, foram responsáveis pelo uso da força desmedida como política de Estado.


A "ala gaúcha" do relatório tem peso e variedade: inclui três presidentes da República, ministro do Exército, chefe do Sistema Nacional de Informações (SNI), delegados de polícia, militares do Exército e da Brigada. Além dos presidentes Arthur da Costa e Silva, Emilio Médici e Ernesto Geisel, outras figuras graduadas responsabilizadas por violações de direitos no relatório incluem o coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, o ex-chefe do SNI Golbery do Couto e Silva e o ex-ministro do Exércio Orlando Geisel.

A lista é completada por agentes locais como os delegados Pedro Seelig, Enir Barcelos da Silva e Firmino Peres Rodrigues. Para o presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Jair Krischke, o relatório constata o papel do Rio Grande do Sul na organização do sistema repressivo nacional.

— Além de nomes importantes da ditadura terem saído daqui, o sistema local de repressão funcionava muito bem sob a coordenação da Secretaria Estadual da Segurança. A presença do aparelho repressivo no Estado foi impressionante — avalia Krischke.


Alguns dos implicados pela comissão nacional se envolveram em casos emblemáticos de tortura, sequestro, desaparecimento ou morte. O delegados Marco Aurélio da Silva Reis e Pedro Seelig e os coronéis do Exército João Oswaldo Leivas Job e Átila Rohrsetzer, por exemplo, estão vinculados ao sequestro dos uruguaios Lílian Celiberti e Universindo Díaz, ocorrido em Porto Alegre em 1978.

Rohrsetzer e o delegado Enir Barcelos da Silva são citados no relatório por participação no caso das "mãos amarradas", no qual o sargento Manoel Raimundo Soares foi morto afogado, com as mãos atadas, após participar de um movimento legalista que pretendia devolver o poder ao presidente deposto João Goulart.

OS RESPONSABILIZADOS

Confira alguns dos principais nomes ligados ao Rio Grande do Sul que foram citados por violações de Direitos Humanos no relatório da Comissão da Verdade:

Alberi Vieira dos Santos (1937-1979) — Sargento da Brigada Militar, segundo o relatório teve participação em detenções ilegais, execuções, desaparecimentos e ocultação de cadáveres

Arthur da Costa e Silva (1899-1969) — Natural de Taquari, foi presidente da República entre 1967 e 1969. Editou, em dezembro de 1968, o famoso Ato Institucional Nº 5 (AI-5) e aumentou o cerco da repressão.

Átila Rohrsetzer (1931) — Coronel do Exército, chefiou serviços de informações do Exército e foi um dos mentores do chamado "Dopinha" — local clandestino de tortura instalado no Centro de Porto Alegre.

Carlos Alberto Brilhante Ustra (1932) — Natural de Santa Maria, o coronel do Exército comandou o Doi-Codi do II Exército de 1970 a 1974. Primeiro militar reconhecido pela Justiça como torturador.

Carlos Alberto da Fontoura (1912-1997) — General do Exército nascido em Cachoeira do Sul, foi chefe do SNI de 1969 a 1974, período em que a oposição ao regime militar foi severamente reprimida.

Carlos Alberto Ponzi (1925) — Coronel do Exército, chefiou a agência do Serviço Nacional de Informaçõe (SNI) em Porto Alegre entre o final da década de 1970 e início da de 1980.

Emilio Garrastazú Medici (1905-1985) — General do exército nascido em Bagé, foi presidente de 1969 a 1974. Em seu governo, se multiplicaram os Destacamentos de Operações de Informações — Centros de Operações de Defesa Interna (Doi-Codi).

Enir Barcelos da Silva (1935-2010) — Delegado de polícia, serviu no Departamento de Ordem Política e Social do Rio Grande do Sul (DOPS/RS) entre 1965 e 1967. Participou de caso de tortura e execução.

Ernesto Beckmann Geisel (1907-1996) — Nascido em Bento Gonçalves, foi general de exército e presidente da República de 15 de março de 1974 a 15 de março de 1979.

Firmino Peres Rodrigues (1931) — Delegado de polícia no Rio Grande do Sul, chefiou o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) na década de 1970, quando o órgão se envolveu com detenção ilegal, tortura e execução.

Golbery do Couto e Silva (1911-1987) — Chefe do SNI de 1964 a 1967. Chefiou o gabinete civil de 1974 a 1981, nos governos dos presidentes Ernesto Geisel e João Figueiredo.

Gonçalino Curio de Carvalho (sem informação) — Coronel da Brigada Militar, participou de detenção ilegal e tortura que, em 21 de maio de 1965, em Erechim, levou à morte o agricultor Leopoldo Chiapetti.

João Oswaldo Leivas Job (1927) — Coronel do Exército e secretário de Segurança do Rio Grande do Sul de 1979 a 1982, teve participação no sequestro dos uruguaios Universindo Rodríguez Díaz e Lilián Celiberti, em 1978.

José Morsch (1912) — Delegado de polícia e diretor-substituto do Dops no Rio Grande do Sul. Foi apontado como um dos envolvidos no caso das "mãos amarradas", em que um homem foi torturado e morto.

Leo Guedes Etchegoyen (1925-2003) — General de brigada e secretário de Segurança do Rio Grande do Sul de 1964 a 1965. Assumiu a chefia do Estado-Maior do III Exército em agosto de 1982.

Luiz Carlos Menna Barreto (1926-1993) — Tenente-coronel do Exército e responsável pelo "Dopinha", centro de tortura clandestino instalado no centro de Porto Alegre.

Luiz Macksen de Castro Rodrigues (1924-2004) — Superintendente da Polícia Federal do Rio Grande do Sul em 1978, à época do sequestro de Lilián Celiberti e Universindo Rodríguez Díaz, em Porto Alegre.

Marco Aurélio da Silva Reis (sem informação) — Delegado de polícia, serviu no DOPS no Rio Grande do Sul. Teve participação em caso de prisão ilegal e tortura.

Nilo Hervelha (sem informação) — Inspetor de polícia do Dops no Rio Grande do Sul de 1970 e 1972. Teve participação em caso de detenção ilegal e tortura.

Orlando Beckmann Geisel (1905-1979) — General de exército e ministro do Exército de novembro de 1969 a março de 1974. Natural de Estrela, era irmão do ex-presidente Ernesto Geisel.


Paulo Malhães (1938-2014) — O coronel serviu no Centro de Informações do Exército com intensa participação em atividades de repressão em Estados como Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul — onde atuou na Capital e em Três Passos.

Pedro Carlos Seelig (1934) — Delegado de polícia, serviu no Dops no Rio Grande do Sul. Teve participação em casos de detenção ilegal, tortura e execução.



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