ZERO HORA 11 de dezembro de 2014 | N° 18010
MARCELO GONZATTO
LUZ SOBRE O PASSADO O PAPEL DO RS. Relatório menciona pelo menos 22 em “ala gaúcha” da repressão. TRÊS PRESIDENTES DA REPÚBLICA, ministro do Exército e chefe do Sistema Nacional de Informações são alguns dos apontados como tendo atuado na linha de frente da caça aos opositores da ditaduraA lista de 377 agentes públicos citados no relatório da Comissão Nacional da Verdade por violações contra os direitos humanos inclui pelo menos 22 nomes reconhecidamente ligados ao Rio Grande do Sul.
São gaúchos que tiveram papel fundamental na organização do sistema repressor no país durante a ditadura militar, incluindo presidentes e ministros, ou servidores do regime lotados no Estado com atuação na linha de frente da caça aos opositores – a listagem oficial, porém, não detalha o local de nascimento ou atuação de todos.
A análise do relatório confirma o papel estratégico representado pelo Rio Grande do Sul no combate aos adversários do governo militar. Além de montar um eficiente sistema regional destinado a sufocar rebeldes, estruturado por policiais e militares sob coordenação da Secretaria da Segurança, o Estado forneceu nomes de alta patente para cargos de poder no país que, segundo o relatório, foram responsáveis pelo uso da força desmedida como política de Estado.
A “ala gaúcha” inclui três presidentes da República, ministro do Exército, chefe do Sistema Nacional de Informações (SNI), delegados de polícia, militares do Exército e da Brigada. Além dos presidentes Arthur da Costa e Silva, Emilio Médici e Ernesto Geisel, o relatório cita o coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, o ex-chefe do SNI Golbery do Couto e Silva e o ex-ministro do Exército Orlando Geisel.
Para o presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Jair Krischke, o documento constata o papel do RS na organização do sistema repressivo nacional.
– Além de nomes importantes da ditadura terem saído daqui, o sistema local de repressão funcionava muito bem. A presença do aparelho repressivo no Estado foi impressionante – avalia Krischke.
Alguns dos implicados pela comissão se envolveram em casos emblemáticos de tortura, sequestro, desaparecimento ou morte. Os delegados Marco Aurélio da Silva Reis e Pedro Seelig e os coronéis do Exército João Oswaldo Leivas Job e Átila Rohrsetzer, por exemplo, estão vinculados ao sequestro dos uruguaios Lílian Celiberti e Universindo Díaz, ocorrido em Porto Alegre em 1978.
Rohrsetzer e o delegado Enir Barcelos da Silva são citados por participação no caso das “mãos amarradas”, no qual o sargento Manoel Raimundo Soares foi morto afogado, com as mãos atadas, após participar de um movimento legalista que pretendia devolver o poder ao presidente João Goulart.
OS RESPONSABILIZADOS |
Confira a lista dos nomes ligados ao Rio Grande do Sul que constam no relatório da Comissão Nacional da Verdade por violações de direitos humanos |
-Alberi Vieira dos Santos (1937-1979) – Sargento da BM, teria participado de execuções, desaparecimentos e ocultação de corpos. |
-Arthur da Costa e Silva (1899-1969) – Natural de Taquari, foi presidente entre 1967 e 1969. |
-Átila Rohrsetzer (1931) – Coronel do Exército, chefiou serviços de informações do Exército e foi um dos mentores do “Dopinha”, local clandestino de tortura em Porto Alegre. |
-Carlos Alberto Brilhante Ustra (1932) – O coronel comandou o DOI-Codi do II Exército (1970-1974). Primeiro militar reconhecido pela Justiça como torturador. |
-Carlos Alberto da Fontoura (1912-1997) – General do Exército nascido em Cachoeira do Sul, foi chefe do SNI de 1969 a 1974. |
-Carlos Alberto Ponzi (1925) – Coronel do Exército, chefiou a agência do Serviço Nacional de Informações (SNI) em Porto Alegre. |
-Emilio Médici (1905-1985) – Nascido em Bagé, o general do Exército foi presidente de 1969 a 1974. |
-Enir Barcelos da Silva (1935-2010) – Delegado de polícia, serviu no Dops/RS entre 1965 e 1967. |
-Ernesto Geisel (1907-1996) – Nascido em Bento Gonçalves, foi general do Exército e presidente da República de 1974 a 1979. |
-Firmino Peres Rodrigues (1931) – Delegado de polícia no RS, chefiou o Dops na década de 1970. |
-Golbery do Couto e Silva (1911-1987) – Chefiou o SNI (1964 a 1967) e o Gabinete Civil (1974 a 1981). |
-Gonçalino Curio de Carvalho (sem informação) – Coronel da BM, participou de detenção ilegal e tortura. |
-João Oswaldo Leivas Job (1927) – Coronel do Exército e secretário de Segurança do RS (1979 a 1982), teria participado do sequestro dos uruguaios Lílian Celiberti e Universindo Díaz, em 1978. |
-José Morsch (1912) – Delegado de polícia e diretor-substituto do Dops/RS, teria se envolvido no caso das “mãos amarradas”. |
-Leo Guedes Etchegoyen (1925-2003) – General de Brigada e secretário de Segurança do RS de 1964 a 1965. Assumiu a chefia do EstadoMaior do III Exército em 1982. |
-Luiz Carlos Menna Barreto (1926-1993) – Tenente-coronel do Exército e responsável pelo “Dopinha”. |
-Luiz Macksen de Castro Rodrigues (1924-2004) – Superintendente da Polícia Federal do RS à época do sequestro de uruguaios na Capital. |
-Marco Aurélio da Silva Reis (sem informação) – Delegado de polícia, serviu no Dops/RS. |
-Nilo Hervelha (sem informação) – Inspetor de polícia do Dops/RS de 1970 e 1972. |
-Orlando Geisel (1905-1979) – General de Exército e ministro do Exército de 1969 a 1974, era irmão do ex-presidente Ernesto Geisel. |
-Paulo Malhães (1938-2014) – O coronel serviu no Centro de Informações do Exército e participou de repressão em Estados como RJ e RS. |
-Pedro Carlos Seelig (1934) – Delegado de polícia, serviu no Dops/RS. |
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