Justiça
ÉTICA OU CAOS
ZERO HORA 29 de setembro de 2012 | N° 17207EDITORIAL
Apouco mais de uma semana das eleições municipais, não poderia ser mais oportuna a manifestação feita pela ministra Cármen Lúcia, no julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), durante a sessão da última quinta-feira. Ao julgar e condenar réus ligados a partidos políticos por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, a magistrada, também presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), lembrou que boa parte dos 138 milhões de eleitores brasileiros vêm demonstrando não apenas desesperança, mas um desencanto com a política e acredita haver razões para isso. Os brasileiros, ressaltou, não devem confundir os réus do mensalão com toda a classe política. Ao mesmo tempo, os eleitores não podem ignorar a importância do voto, que deve ser visto sempre como exercício de cidadania.
A particularidade de dois episódios tão importantes para a democracia estarem ocorrendo de forma simultânea – a campanha eleitoral e o julgamento do mensalão – reforça o significado da manifestação. A repercussão gerada simultaneamente pelos dois eventos não pode servir para reduzir o impacto de um ou outro. Ambos precisam ser vistos como alternativas para o país reforçar as exigências quanto à atuação de seus homens públicos. Foi por isso que, num recado dirigido especialmente aos jovens, a integrante do STF fez um apelo à juventude para que não leve em conta fatos isolados para descrer da política. Mas ressalvou: detentores de cargos políticos devem ser mais rigorosos no cumprimento de leis, pois, nesses casos, é a ética ou o caos.
Desvios no âmbito do setor público como os que vêm ocupando a atenção na mais alta corte judicial do país, de fato, impõem não apenas um custo moral. Significam também prejuízos financeiros consideráveis num país em que faltam recursos oficiais para tudo, inclusive em áreas às quais o poder público deveria dedicar atenção prioritária, pois são de sua exclusiva competência. Como ressaltou a ministra, “um prejuízo no espaço político significa que uma sociedade inteira foi furtada”. Na prática, o dinheiro que um parlamentar ou homem público embolsa acaba faltando para a reforma da escola, para maior atenção à criança e à mãe, para a construção de um posto de saúde e para investimentos em estradas ou em saneamento básico, entre outras áreas que deveriam se constituir em prioridade do poder público. E é contra essas subtrações que o eleitor deve se insurgir, pois não têm como ser toleradas.
O rigor que vem sendo imposto pelo STF aos réus do mensalão, como bem ressaltou a ministra Cármen Lúcia, não pode servir para mais descrença na política. Precisa, isso sim, ser visto como um sinal de que o país não admite mais conviver com a corrupção e já se mostra em condições de puni-la.
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