Mário Simas FilhoEm junho, as manifestações que tomaram as ruas brasileiras surpreenderam os políticos e os especialistas sociais de plantão. Com bandeiras diversas, milhões de pessoas ocuparam as ruas e mostraram que o País vive o período democrático mais maduro de sua história. Mas, passados os primeiros atos, o País se recolheu. Não pela falta de respostas às genéricas reivindicações. Pelo contrário, a pequena fatia concreta da demanda levada às praças acabou atendida e, como não se via há muitos anos, a sociedade pautou a agenda política. O que fez os brasileiros refluírem foi a apropriação do movimento por grupos interessados mais em barbarizar do que em reivindicar. Alguns até com alguma causa, que tende a perder legitimidade na medida em que partem para a depredação. Outros empenhados apenas em se juntar aos manifestantes com o objetivo de quebrar o que veem pela frente, seja público, seja privado. De comum entre eles: a covardia. Escondem-se atrás de máscaras. Vândalos sabem que cometem crimes comuns, mas buscam se posicionar entre manifestantes pacíficos para dar ao vandalismo alguma pseudoconotação política. Em um primeiro momento, a violência praticada por uma polícia despreparada acabou ajudando a fermentar a mobilização. Depois, a violência dos vândalos foi decisiva para o esvaziamento das ruas. Na semana passada, porém, uma nova postura adotada por policiais, promotores e juízes de vários Estados reafirmou o amadurecimento da democracia brasileira.
CIDADANIA
Depredação e paralisação de rodovias, portos e aeroportos
costumam dar cadeia até nas democracias mais desenvolvidas
Uma determinação que começou com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, ganhou dimensão nacional e passou a ser aceita pelo Judiciário. Desde a semana passada, mascarados que estiverem em manifestação serão levados à delegacia, onde terão de tirar a máscara e se identificar. Depois poderão voltar. A medida já aplicada em Pernambuco, no Rio de Janeiro e em São Paulo tende a se espalhar por todo o País e poderá intimidar os vândalos. O mascarado que se recusar a tirar a máscara poderá ser conduzido à força para a delegacia. Não se trata de proibir a presença deles nas manifestações. Mas, para isso, terão de antes se identificar aos policiais. Por outro lado, os policiais que forem escalados para patrulhar as manifestações deverão estar identificados e suas ações serão filmadas. Assim, espera-se conter a violência de alguns fardados que insistem em não se adaptar a um regime de liberdades. Como diz o historiador Maurício Parada, da PUC do Rio de Janeiro, democracia e manifestações populares devem caminhar juntas.
Ainda sobre as manifestações, outra boa notícia veio de São José dos Campos, no interior de São Paulo. O juiz da 2ª Vara Federal proibiu o Sindicato dos Metalúrgicos de bloquear as avenidas próximas à rodovia Presidente Dutra. Uma medida que pôs fim a uma situação que vinha provocando antipatia generalizada ao movimento sindical. Nos últimos meses cansou-se de ver duas ou três dezenas de pessoas pararem as principais estradas do País, portos e até aeroportos. Manifestar é um direito. Um exercício de cidadania. Mas, mesmo nas democracias mais evoluídas, parar uma rodovia ou um porto por causa de meia dúzia de pessoas em defesa de interesses meramente corporativos costuma resultar em cadeia. Com medidas como essas, é muito provável que os brasileiros voltem de forma sadia às ruas e que nossa democracia amadureça mais e mais.