A DOENÇA DO JOGO
Justiça

A DOENÇA DO JOGO


Série de reportagens publicada por este jornal no decorrer da semana recém-finda escancarou uma mazela da sociedade brasileira que se alimenta da omissão das autoridades e da negligência dos cidadãos: o jogo compulsivo. Trata-se de uma doença grave, que arruína pessoas, desestrutura famílias e provoca verdadeiras tragédias, incluindo-se aí o suicídio. Mas é também, ao mesmo tempo, um negócio lucrativo e muitas vezes ilegal, em torno do qual operam verdadeiras quadrilhas organizadas, que exploram o vício e se valem da corrupção para se manter impunes.

O jogo proibido – caça-níqueis, bingos, cassinos e assemelhados – é tratado pela legislação e pelas autoridades como simples contravenção. Quando flagrado pela polícia, gera, no máximo, os chamados termos circunstanciados, que são registros de infrações de pouca relevância e praticamente nenhuma penalização. O jogo legal – loterias de todas as modalidades, corridas de cavalo – também vicia e causa danos às finanças e ao patrimônio das pessoas, mas conta com a cobertura do Estado, que dele se vale para arrecadar recursos e financiar atividades assistenciais.

O debate nacional sobre a legalização dos jogos ainda não se esgotou, pois o Brasil é um dos poucos países sul-americanos que proíbem o funcionamento de cassinos. Tais instituições são, reconhecidamente, fomentadoras do turismo e geradoras de empregos. Além disso, no vácuo dessa proibição proliferou no país uma organização clandestina de máquinas caça-níqueis, que desafia o poder público e corrompe as forças policiais.

Em meio a esse fogo cruzado de proibição e permissividade, transita um contingente de brasileiros viciados na jogatina, que é hoje estimado em 4 milhões de pessoas. São vítimas de uma compulsão que os faz perder o dinheiro, o emprego, a família e a dignidade, como se pode constatar nas reportagens referidas, que incluem até mesmo a dependência de crianças e adolescentes por jogos de computador – com danos psíquicos e emocionais importantes.

Infelizmente, essas pessoas têm sido negligenciadas não apenas pelo poder público, mas também pela sociedade e, muitas vezes, pelas próprias famílias. Inexiste no país uma estrutura oficial de assistência e prevenção para a doença do jogo. São meritórias as ações de organizações não governamentais como a dos Jogadores Anônimos, mas insuficientes diante da dimensão e da gravidade do problema mostrado na série de reportagens divulgada recentemente por Zero Hora.

Acreditamos que o jornal cumpriu o seu papel ao descortinar esta mazela social que infelicita tantas famílias no país. A franqueza dos depoimentos não deixa dúvida de que autoridades e cidadãos precisam se envolver na busca de soluções para as atuais vítimas e de medidas preventivas para o futuro.

EDITORIAL ZERO HORA 14/05/2011



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