A CASA DA AMANTE
Justiça

A CASA DA AMANTE



ZERO HORA 31 de janeiro de 2014 | N° 17690

ARTIGOS

por José Carlos Teixeira Giorgis*



Um dos temas recorrentes nos tribunais é sobre as famílias simultâneas, ou seja, a existência de núcleos paralelos ao matrimônio com o reconhecimento de efeitos jurídicos para um dos integrantes desta parceria. Se o cônjuge está separado de fato de sua esposa, a situação está protegida como união estável; mas, se o casamento persiste, instalou-se no código figura híbrida e mal desenhada que se denomina concubinato para as relações não eventuais entre homem e mulher impedidos de casar-se.

Assim são frequentes as refregas previdenciárias em que a viúva e a concubina disputam a pensão deixada; ou o patrimônio havido, com resultados pendulares conforme a natureza da Corte.

Em palestras, procura-se alvoroçar os alunos advertindo-os de que, em breve, os manuais cuidarão do assunto como “direitos da amante”, em prol do desgaste que o vocábulo concubina sofre há centúrias, o que exige sua substituição por outro que lhe dê dignidade jurídica, como aconteceu já com outros preconceitos empalidecidos.

É verdade que tais células pouco manifestas, em muitos casos, abrigam típicas famílias, com notoriedade, descendência e até comunhão de vida, embora o varão persista (con) jungido aos laços originais, em esperta duplicidade de vida: aqui o julgador titubeia ante a forte aparência de um concubinato puro e nas sérias consequências de seu veredicto.

A lei ordena que a viúva (ou viúvo) tem o direito de permanecer morando no imóvel em que a família residia desde que único daquele tipo a inventariar; essa garantia, embora não escrita para a companheira (ou companheiro), é admitida pelos tribunais também na união estável, repita-se, vínculo entre pessoas desimpedidas ou separadas de fato.

Pois bem, em decisão recente, o Superior Tribunal de Justiça entendeu, por escassa vantagem, que o direito de habitação – nome do instituto acima referido – também se estende à concubina.

O caso julgado foi o seguinte: um respeitável cidadão habitava com sua família em imóvel alugado; e há muitos anos convivia com outra, mas num apartamento que estava em seu nome, sem que sua linhagem soubesse, fato que despertou no falecimento; partilhado esse único bem, tentou-se desalojar a ocupante que, por óbvio, retrucou com seu privilégio. E venceu.

Como diz o jargão forense, é necessário examinar os argumentos em que se ancora o acórdão, pois cada precedente tem sua peculiaridade e nem sempre veste todas as hipóteses.

As amantes estão atentas aos derradeiros recursos.

*DESEMBARGADOR APOSENTADO






loading...

- O Papel Do JudiciÁrio Na Sociedade Brasileira
ZH 20/09/2014 | 15h05 Especialistas discutem o papel do Judiciário na sociedade brasileira. Demasiada para uns, necessária para outros, atuação mais intensa do Judiciário tem pautado grandes questões sociais e comportamentais no país por Itamar...

- Declarar Suspeito Se For Amigo Íntimo
ENTREVISTA. “O juiz deve se declarar suspeito se for amigo íntimo” Tânia Rangel, professora da FGV Direito Rio Professora do Centro de Justiça e Sociedade da FGV Direito Rio, Tânia Rangel elenca, a pedido de ZH, as hipóteses que podem tirar...

- PensÃo De R$ 43 Mil Para Filha De Desembargador Casada No Religioso E Com Filhos
Justiça do Rio garante pensão de R$ 43 mil para filha de desembargador As 32 mil “filhas solteiras” de servidores são 34% das pensionistas e custam ao Estado R$ 447 milhões por ano. Para não perder benefício, muitas se casam de fato, mas...

- Justificativa Divina
Juiz diz que cancelou união gay “por Deus”. Depois da decisão polêmica, TJ goiano anulou a decisão de magistrado- zero hora, 23/06/2011 Responsável por cancelar o registro de união estável de um casal de homens na semana passada em Goiânia...

- Os Gays E Os PresidenciÁveis,
ZH 04 de setembro de 2014 | N° 17912 RUI PORTANOVA* Pelo que li na Zero Hora (3/9), a situação dos gays pode piorar. Vale lembrar que, primeiro, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a inconstitucionalidade de distinção de tratamento legal...



Justiça








.