João Bosco Rabello
Por mais que possa sugerir uma estratégia de defesa de seu cliente, pela sua essência redutora de intenção e de manipulação, a acusação do advogado Jonas Tadeu de envolvimento de políticos nos atos de vandalismo e violência, precisam ser apuradas.
Trata-se de uma suspeita que antecede a morte do cinegrafista Santiago Andrade, cujo martírio pode trazer luz a uma zona de sombra, entre muitas outras que dificultam o conhecimento do problema e que mantém o país no debate baseado no “achismo”.
Desde que surgiu, no rastro das manifestações pacíficas de junho, a violência organizada produziu apenas uma certeza: a de que os protestos ordeiros estavam banidos das ruas. Do que se concluiu, de imediato, que nesse efeito residia seu único ou principal objetivo.
Numa cadeia lógica de raciocínio, os principais beneficiários do fim dos protestos pacíficos, eram os destinatários de suas críticas e reivindicações, por sua vez, o mais interessados em cessá-las. Dos políticos, portanto, alvos da mensagem de que não mais os representavam, viria naturalmente a operação para tirar os manifestantes das ruas.
A lógica, por si só insuficiente, foi reforçada pela rede de apoio que se formou aos black blocs, reunindo intelectuais, artistas e partidos mais identificados com a linha progressista, e materializada no apoio jurídico a presos em flagrante delito, intermediado por essas legendas, no pressuposto da condição de indefesos desses manifestantes.
O debate dentro desse cenário estabeleceu o clima de Fla Flu entre os progressistas e conservadores, ideologizando a discussão que se desenvolveu, até aqui, em clima que tem por matriz a desinformação geral.
As primeiras prisões com elementos claros de culpa direta na morte de um cidadão, no exercício de sua atividade, pelas costas, sem qualquer chance de defesa, desfaz o glamour, quase uma nostalgia ideológica, que move a defesa de um movimento de violência danoso à democracia.
Mais que isso, o simbolismo que faz a distinção entre o cidadão Santiago Andrade e o jornalista no exercício de sua atividade, vítima escolhida ou predestinada do ataque que tira de cena o profissional da informação, num ato final da hostilidade contra a imprensa, representada na figura do cinegrafista.
Está firmado o divisor de águas nesse processo que ganha agora sua primeira oportunidade clara de investigação com base na realidade e com um fio de meada pronto a ser desenrolado. No âmbito do setor público, no qual se inserem os partidos, toda a luz é bem vinda.
A combinação de legislação objetiva, simples, como a proposta pelo Secretário de Segurança do Rio, Mariano Beltrame – que tem o mérito de tipificar dispositivo constitucional- com uma investigação competente possibilitada pela morte de Santiago, é a melhor resposta e reafirmação de compromisso democrático da classe dirigente ao País.
O Congresso, porém, dá sinais de comportamento errático ao se enredar com propostas polêmicas, como a de uma lei antiterror que não se aplica ao caso. Se a devemos, não só em função da Copa do Mundo próxima, mas também pelos tempos planetários, ela não se impõe como prioridade agora.
Com menos pretensão se pode dar às autoridades policiais condições objetivas de enfrentar a violência dentro de regras democráticas que não comprometam os resultados das investigações pela falta de legislação que impeça seus efeitos.