ZERO HORA 09 de outubro de 2014 | N° 17947
FRANKLIN CUNHA*“Isto é uma revolta?”
“Não, Majestade, é uma revolução.”
Na véspera da queda da Bastilha, o Duque de Laucourt informando o rei Luís XVI sobre os últimos acontecimentos
Nos diversos dicionários as definições pouco diferem.
Assim, “revolta” é manifestação (armada ou não) contra a autoridade estabelecida; levante, insurreição, rebelião.
“Revolução” é uma transformação radical, de uma estrutura política, econômica e social, por via de regra, violenta.
Para que uma revolta deixe de ser apenas rebelião e se insira na História, deve transformar-se em revolução. As revoltas, por mais ousadas que sejam, são atos estéreis se não se apoiam em uma doutrina revolucionária. Todas as grandes revoluções que entraram na História foram pensadas e até executadas por intelectuais. Detalhe: quase todos da classe média.
Desde o século 18, a palavra revolução é filosofia em ação, crítica transformada em ato, violência executada com lucidez. A razão se torna um princípio político subversivo. Um revolucionário é um intelectual, homem de ideias que busca a justiça social definida como igualdade, liberdade e fraternidade. Assim fica difícil enquadrar os acontecimentos de 64 em nosso país sob a denominação de “revolução” como ainda se lê e se ouve vinda das penas e das bocas de alguns políticos e até de magistrados. E também, se tivermos bem conscientes as definições propostas neste texto, deve ser abandonada a pretensão de que se possa fazer uma autêntica revolução pelo voto, nos recintos acarpetados e climatizados dos parlamentos. Várias autênticas revoluções aí acabaram derrotadas e os revolucionários nas prisões ou nos cemitérios.
Vinda dos países anglo-saxões, no século 20 apareceu a palavra “reformista”. Palavra decente que não significa nem revolta, nem revolução, ambas sangrentas. O revolucionário está ligado a uma filosofia, o reformista às ciências, à indústria, ao comércio. Ortega y Gasset elaborou uma precisa distinção: o revolucionário deseja modificar os usos, o reformista, os abusos.
O reformista é um revolucionário que escolheu o caminho da evolução, não o da violência. E esta é trajetória usual de muitos revolucionários que, ao ascender social e economicamente, reformam sua vida, seus conceitos políticos e limitam sua atividade política aos almoços das quintas-feiras.
*Médico. FRANKLIN CUNHA
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