As investigações sobre as circunstâncias da morte do cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Ilídio Andrade, de 49 anos, aprofundadas na última semana em meio ao clamor popular gerado pela tragédia, fizeram suscitar teses que apontam para várias direções, mas que, até agora, carecem de comprovação. Não restam dúvidas da participação dos dois acusados, Caio Silva de Souza e Fabio Raposo, no acionamento do rojão que vitimou o cinegrafista. Ambos estão presos e indiciados por homicídio doloso qualificado com dolo eventual e crime de explosão. Na sexta-feira 14, o delegado Maurício Luciano, titular da 17ª DP (São Cristóvão), entregou o relatório final do inquérito que apura o caso para a Promotoria de Investigação Penal do Ministério Público. Nele, constam provas robustas do envolvimento dos dois. Entre elas, o depoimento do próprio Caio, que admitiu que colocou o artefato no chão, depois de pegá-lo, já aceso, das mãos de Raposo. Acompanham o relatório laudos do esquadrão antibombas sobre o artefato, laudo cadavérico do cinegrafista, perícia do local, além de depoimentos de testemunhas e do amigo de Caio, que trabalhava com ele no hospital. O amigo confirmou ter ele ligado no dia da manifestação ofegante dizendo que havia feito uma besteira e teria matado um homem.
Outra vertente da apuração, porém, que sugere o financiamento das manifestações por políticos e partidos ainda está perdida em densa nebulosidade. Num primeiro momento, o advogado Jonas Tadeu Nunes, que defende Caio, acusou o deputado Marcelo Freixo (PSOL) de ter ligação com o seu cliente e afirmou que seu cliente recebia R$ 150 para cometer atos de vandalismo durante os atos públicos. Dois dias depois, desculpou-se com Freixo e reconheceu que o suposto pagamento ao manifestante deveria ser “melhor apurado”. Ao longo da semana, além de Freixo, o ex-governador Anthony Garotinho, adversário do atual governador Sérgio Cabral, foi apontado como suposto financiador de protestos.
Caio, ganhava um salário-mínimo como auxiliar de serviços gerais num hospital público e ajudava a mãe, desempregada, a cuidar do avô doente. No depoimento, chegou a dizer que já foi convidado a participar de protestos de forma remunerada, mas que não conhecia as pessoas que aparecem nos atos públicos oferecendo dinheiro da passagem a quem tem dificuldade para comparecer à manifestação seguinte. O acusado disse ainda que viu, na porta da Câmara Legislativa do Rio de Janeiro, a chegada de até 50 quentinhas para os ativistas. Na quinta-feira 13, uma lista de prestação de contas circulou pelas redes sociais. A relação revela que dois vereadores do PSOL, um delegado de polícia e um juiz doaram dinheiro para um evento de fim de ano organizado pelos mesmos líderes das manifestações de rua do Rio. Mas esse evento específico, o “Mais Amor Menos Capital”, supostamente bancado por autoridades, não guardava nenhuma relação com os protestos. Contou com apresentações musicais e refeições servidas para cerca de 300 moradores de rua da Cinelândia no fim de dezembro. A arrecadação teria sido feita pela ativista Elisa Quadros, a Sininho, presa em outubro junto com mais 31 pessoas que participavam do movimento Ocupa Câmara, a quem Caio chama em seu depoimento de uma das mentoras dos protestos.
Essas informações, segundo o delegado Maurício Luciano, serão enviadas para um outro inquérito que vai apurar o aliciamento de jovens. De qualquer forma, essas teorias, verdadeiras ou não, são incapazes de resolver o problema em toda a sua complexidade e dimensão. Mesmo que haja pessoas que participam dos protestos por dinheiro, não seria razoável supor que a simples eliminação destes levaria ao fim dos atos de vandalismo. Em São Paulo, por exemplo, a Polícia Civil paulista diz ter interrogado 300 black blocs e descartou o pagamento em dinheiro a participantes de protestos. Ao contrário do Rio de Janeiro, não existem indícios de que pessoas sejam pagas com intuito de promover quebra-quebra durante as manifestações.
fotos: Carlos Moraes/Agência O Dia;
FABIO MOTTA/ESTADÃO; ALE SILVA/FUTURA PRESS