ZERO HORA 15 de fevereiro de 2014 | N° 17705
Suspeitos são indiciados por explosão e homicídioO inquérito policial sobre a morte do cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade, 49 anos, foi entregue ontem à tarde ao Ministério Público do Rio.
O delegado Maurício Luciano de Almeida, da 17ª Delegacia de Polícia, indiciou o tatuador Fábio Raposo, 23 anos, e o auxiliar de serviços gerais Caio Silva de Souza, 22 anos, pelos crimes de explosão e homicídio doloso (com intenção de matar), qualificado por uso de artefato explosivo.
Os dois jovens seriam responsáveis pelo rojão que atingiu o cinegrafista durante uma manifestação. Em caso de condenação, cada um deles pode pegar até 35 anos de prisão.
– Os dois fizeram trabalho conjunto, em comunhão de esforços e para mim não importa quem acendeu o rojão – disse o delegado Almeida.
O delegado também pediu que as prisões de Raposo e Souza sejam convertidas de temporária em preventivas. A prisão preventiva tem tempo indeterminado. Já a temporária, a que ambos estão submetidos, tem duração de 30 dias.
Raposo está preso na Casa de Custódia Patrícia Acioli, em São Gonçalo, região metropolitana, e Souza continua no Complexo de Gericinó, em Bangu, Zona Oeste.
O delegado afirmou que o relatório final do inquérito conta com “provas robustas, imagens e depoimentos que comprovam a participação de Raposo e Souza no acionamento do rojão que vitimou o cinegrafista”.
O documento foi recebido pela promotora Vera Regina de Almeida, da 8ª Promotoria de Investigação Penal. Ela informou, através da assessoria do Ministério Público, que só vai falar sobre o caso após analisar a documentação. A promotora tem cinco dias úteis para oferecer a denúncia.
O advogado dos dois jovens, Jonas Tadeu Nunes, sustentou ontem que Souza, um dos seus clientes, foi coagido pela polícia a depor na prisão.
O defensor disse que vai pedir até a próxima segunda-feira o apoio ao Ministério Público do Rio para incluir a suposta ação irregular no processo.
– Ele foi coagido psicologicamente a falar na calada da noite, de madrugada.
Ontem, o advogado esteve no presídio de Bangu para saber o motivo de Souza ter mudado sua versão e negado ter acendido o rojão que causou a morte do cinegrafista.
– Vou entrar com habeas corpus para imediata soltura e anulação desse depoimento do Caio – disse.
Polícia vai apurar as doações
O chefe da Polícia Civil do Rio, Fernando Veloso, ordenou uma investigação do conteúdo da planilha com prestação de contas do evento batizado de “Celebração da Rua – Mais Amor, Menos Capital”, realizado em 23 de dezembro, no centro do Rio.
A planilha foi elaborada pelos organizadores, alguns deles manifestantes que fizeram parte do Ocupa Câmara, para o evento que promoveu uma ceia de Natal para moradores de rua. As doações seriam para compras de alimentos, segundo a organização.
A planilha foi repassada por Elisa Quadros, a Sininho, num grupo fechado do Facebook. Nela, aparecem os nomes do delegado da Polícia Civil Orlando Zaccone, que teria contribuído com R$ 200, além dos vereadores Jefferson Moura e Renato Cinco (ambos do PSOL), apontados como doadores de R$ 400 e R$ 300, respectivamente. Há ainda o juiz João Batista Damasceno, com R$ 100 anotados ao lado.
Em nota, a assessoria da Polícia Civil afirmou que “o objetivo é confirmar se o dinheiro doado era usado para financiar atos criminosos em manifestações”. A investigação ficará a cargo da Delegacia de Repressão ao Crimes de Informática. A unidade especializada também vai receber cópias dos depoimentos realizados pelos suspeitos de acender o rojão que matou o cinegrafista Santiago Andrade.
Em depoimento, um dos investigados pelo crime, Caio Silva de Souza, afirmou que já recebeu dinheiro para causar tumultos nos protestos. Zaccone e os vereadores confirmaram que fizeram as doações com o objetivo de ajudar no evento de Natal. O juiz Damasceno não quis confirmar se fez ou não a doação para o evento e se limitou a dizer que “jamais contribuiu financeiramente para manifestações”.
No Facebook, o delegado Zaccone postou um texto no qual registrou: “Fico muito feliz em receber do Chefe de Polícia Civil, Dr. Fernando Veloso, a notícia de que estas denúncias veiculadas pela mídia serão devidamente investigadas. ”
MUDANÇA NA LEGISLAÇÃO
Governo prepara projeto contra vândalos
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, anunciou ontem que um projeto de lei para regulamentar os crimes praticados em protestos será encaminhado pelo governo em regime de urgência ao Congresso Nacional. O texto, em resposta à morte do cinegrafista Santiago Andrade, ainda está em fase de elaboração no Ministério da Justiça.
– A ideia é propor uma lei equilibrada e sem excessos, uma lei firmada no contexto da democracia brasileira, democracia esta que não aceita que os direitos de uns sejam pisoteados por outros – afirmou o ministro.
Ainda de acordo com Cardozo, são necessários sanções para aqueles que transgridam o direito da população de se manifestar,.
– Queremos garantir segurança ao cidadão que participa e à imprensa, indispensável nesse processo, fazendo com que não se admitam atos de vandalismos em protestos.
O Ministério da Justiça iniciará agora um processo de recolhimento de sugestões dos Estados para esse projeto de lei.
LISTA DE DOADORES E VALORES
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