Justiça
ONDE ESTÁ A QUALIDADE?
JORNAL DO COMERCIO 24/10/2012
Luiz Eduardo da Silva Amaro Qualidade virou palavra obrigatória entre administradores, a partir da década de 1980, quando dezenas de livros sobre o assunto inundaram as livrarias, no rastro do milagre japonês. Ainda hoje, todo curso de Administração que se preze tem uma disciplina sobre Gestão da Qualidade. A justificativa é sempre a mesma: sem qualidade, nenhum bem físico ou serviço sobreviverá à disputa de mercado. O problema é que os produtos nunca tiveram tão pouca qualidade ou tão curta vida útil. Já colecionei, para discussão em sala de aula, recortes de jornais sobre recalls de carros, motos, carrinhos de bebês e até mesmo biquínis - que ficavam transparentes quando molhados! Até meu bombom favorito, cujo recheio era uma mistura deliciosa de castanha de caju e amendoim, hoje traz uma massa à base, principalmente, de leite em pó e açúcar, cujo sabor passa longe do que costumava ser. E não adianta trocá-lo pelo concorrente: está a mesma coisa! Quando comecei a expor esses fatos entre professores e administradores, a concordância foi quase unânime. Ou seja, os próprios profissionais responsáveis pelo assunto reconhecem: fala-se muito em qualidade só para constatar sua falta.
Esses profissionais, inclusive, aumentaram minha lista de produtos que deixam a desejar, reclamando da falta de sabor em alimentos in natura e industrializados, e do excesso de sal e de açúcar em salgadinhos e doces, o que explica porque nossas crianças não suportam salada. Nos serviços, sejam públicos ou privados, a coisa não é diferente. Faça uma pergunta mais difícil para um funcionário de banco ou dirija-se a um balcão de órgão público. Novamente, constatará que a qualidade nesse setor é coisa rara. As duas idosas que morreram recentemente por terem recebido sopa e café com leite na veia são um indício de que, talvez, a questão da (falta de) qualidade em produtos e serviços neste País esteja indo longe demais.
Professor universitário, Faculdades Integradas São Judas Tadeu
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