NACIONALISMO SAUDÁVEL
Justiça

NACIONALISMO SAUDÁVEL



ZERO HORA 25 de junho de 2014 | N° 17840


EDITORIAL




O patriotismo civilizado é bem diferente do nacionalismo exacerbado que gerou conflitos bélicos e ideologias totalitárias ao longo da História.

O melhor da Copa do Mundo é a constatação de que a competição esportiva reduz o nacionalismo – origem de guerras e genocídios – a uma dimensão humana aceitável, em que o compartilhamento de culturas supera eventuais preconceitos e animosidades decorrentes da origem dos povos. Na festa esportiva que o Brasil está promovendo, muitas pessoas estão se dando conta de que somos uma raça só, em busca de sentido para a nossa passagem pelo planeta. No mês do triste centenário do início da I Guerra Mundial, que envolveu 28 países e causou a morte de 17 milhões de pessoas, ganha mais importância ainda uma reflexão sobre este sentimento de nação que pode ser ilusório e danoso, mas também pode ajudar a construir um mundo melhor para todos.

As bandeiras desfraldadas pelos torcedores dos 32 países participantes da Copa, os hinos nacionais entoados antes de cada partida e a exposição permanente de cores representativas das nações evidenciam o legítimo orgulho de pertencimento a uma pátria, sem que isso caracterize desprezo ou desconsideração às demais. Este patriotismo civilizado é bem diferente do nacionalismo exacerbado que gerou conflitos bélicos e ideologias totalitárias ao longo da História.

A humanidade já sofreu demais por causa desta deformação nacionalista que valoriza demasiadamente a origem étnica e estimula a rejeição a outros povos. Raça, religião, idioma e cultura são características naturais ou adquiridas de parcelas da população, que servem para formar a identidade de grupos humanos, mas que não devem se sobrepor aos sentimentos mais nobres da nossa espécie. Se podemos compartilhar nossas diferenças, enriquecendo-nos mutuamente, por que haveríamos de utilizá-las como pretexto para guerras e disputas políticas?

Infelizmente, nem sempre tem sido assim. Duas guerras mundiais e incontáveis conflitos entre nações comprovam fartamente que o nacionalismo perverso ainda mobiliza corações e mentes, especialmente quando manipulado por lideranças políticas mal-intencionadas.

Até por isso, cabe reconhecer a convivência tranquila e o congraçamento até agora registrados entre torcedores das diversas seleções participantes do Mundial, sem que estes abram mão de suas identidades e de eventuais rivalidades esportivas.



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