Justiça
DUAS VISÕES DE SOCIEDADE
ZERO HORA 09 de abril de 2013 | N° 17397
EDITORIAIS
O melhor da democracia é que ela permite o conflito de ideias em um ambiente civilizado. Num regime de liberdades, pessoas que pensam de maneira diferente podem conviver em paz, sem o risco de sofrer ameaças e constrangimentos. Em regimes que deixam a liberdade em segundo plano, independentemente do pretexto utilizado, os “mais iguais” da fábula de George Orwell invariavelmente tentam impor seus valores sobre os das outras pessoas. Os dois fóruns iniciados nesta segunda-feira em Porto Alegre confrontam esses princípios e oferecem ao público uma oportunidade para reflexão sobre o modelo mais adequado para a realidade brasileira.
No Fórum da Liberdade, sob o slogan “O que se vê e o que não se vê”, discute-se o empreendedorismo, a liberdade de expressão e o liberalismo econômico como caminho para o desenvolvimento. No Fórum da Igualdade, sob o slogan “Não há liberdade sem igualdade – só não vê quem não quer”, a tônica é a defesa de uma sociedade controlada pelo Estado como alternativa para a busca de igualitarismo e justiça social. Ambos, portanto, ambicionam um mundo melhor, apenas os caminhos são diversos – e isso, como a história da humanidade tem demonstrado, pode fazer toda a diferença.
É perfeitamente compreensível que grupos discordantes das ideias defendidas no tradicional Fórum da Liberdade, que chega à sua 26ª edição neste ano, façam o contraponto do que lá se discute. O ideal seria a troca de plateia nos dois eventos, para que houvesse efetivo questionamento para as propostas apresentadas. Infelizmente, ambos mantêm um viés excludente, como se pode perceber pela presença predominante de palestrantes e convidados que comungam das mesmas visões dos organizadores.
Neste contexto, é difícil de entender a opção do governador do Estado por prestigiar um dos eventos e desconsiderar o outro, em vez de adotar um posicionamento de magistrado, como seria adequado para um chefe de Executivo e para a própria mensagem de igualdade do fórum escolhido. Ao que tudo indica, entre um evento que defende a liberdade de expressão – e, por isso, valoriza a crítica, a cobrança da sociedade sobre os governantes, o questionamento sobre a eficiência do Estado – e outro que advoga o controle da informação disfarçado de regulamentação da mídia – com o claro propósito de constranger os críticos e premiar os adesistas –, o primeiro mandatário rio-grandense está optando pelo que mais lhe convém.
Governantes, em geral, têm pouca tolerância a críticas. Alegam que elas estão sempre a serviço de seus oponentes políticos, e não é incomum que ressuscitem fatos passados para justificar suas teses estapafúrdias e para mascarar a realidade. Mas a verdade sempre vem à tona, ainda que se tente encobri-la com o véu fantasioso da igualdade construída para beneficiar os “mais iguais”, que só pensam em se perpetuar no poder.
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