CRISE DE PERTENCIMENTO
Justiça

CRISE DE PERTENCIMENTO


Astor Wartchow, advogado - Zero Hora, 02/10/2011

Historicamente, devido às guerras, invasões e pestes, os povos desenvolveram a necessidade de organização social, a exemplo de fortificações, vilas e cidades.

Essa convivência determinou o surgimento de um sistema de ideias e valores da vida em sociedade, suas possibilidades, expectativas e o papel social do indivíduo.

Segundo o sociólogo alemão Max Weber (1864-1920), seria uma “comunidade política”, voltada para a ação, partilhando valores, costumes, uma memória comum, criando uma “comunidade de sentido”, um “sentimento de pertencimento”.

Pertencimento, ou o sentimento de pertencimento, pode ser entendido como uma ideia ou crença que une as pessoas e expresso por símbolos e valores sociais, morais, estéticos, religiosos, políticos, entre outros.

Sentir-se pertencente a um lugar, sentir que tal lugar também nos pertence, sentir que vale a pena interferir na rotina e nos seus rumos.

É um sentimento muito parecido com a identificação que estabelecemos com nosso clube social, nosso colégio, com o time de futebol pelo qual torcemos, nosso bairro, a terra onde nascemos!

Daí também nasce a expressão “bairrismo”. Orgulhosa e positivamente falando, é o que se manifesta quando alguém pergunta sobre nosso Estado, nossa cidade, nossa vila, nosso povo.

Não é à toa que as comunidades têm suas festas típicas, seus monumentos, atrações artísticas e culturais, tradicionais empresas, homens públicos e artistas de renome.

Ou, então, elogiosas e referenciais características de desenvolvimento socioeconômico, como progresso, modernidade, urbanidade, limpeza etc.

Bem, isso tudo é coisa do passado. Em tempos de migrações internas em massa, empobrecimento e desemprego, popularização de maus costumes, razões sociais e culturais em desvalorização, resta que valores, práticas e comportamentos estão em xeque e choque.

Mais otimista, alguém dirá: mas restam as leis que regem a sociedade, que fundam, fixam e norteiam nossas ações e a vida em sociedade.

Nesse cenário ininterrupto de deboche, fingimento e impunidade, mesmo as leis restam como idealizações que não resistem à realidade.

Então, resumindo, sobre valores sociais, costumes comunitários e leis, sempre haverá aquele que pensa e age diversamente, indiferente às construções sociais do passado, e que, deliberadamente ou não, não compartilha dos mesmos costumes!

Pergunto: sobreviverá o ideal do pertencimento? A considerar os históricos valores sociais e suas motivações inaugurais e a degradação em curso, ainda há motivos para ufanismo coletivo e comunitário?

E nem falei em desídia pública, privilégios corporativos, corrupção e “consultorias”!



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