Rua Sérgio Fleury pode mudar de nome por proposta do PCdoB O Globo / Eliária Andrade
SÃO PAULO - Rua Dr. Sérgio Fleury, Elevado Costa e Silva, Avenida Presidente Castelo Branco. Comissões da Verdade em São Paulo, Rio e Paraná querem refazer o mapa das cidades, tirando os nomes de agentes da ditadura e colaboradores do regime militar (1964-1985) de vias, praças e prédios públicos. Em São Paulo, o prefeito Fernando Haddad já promulgou uma lei que permite a troca de nomes dos logradouros que prestem homenagem a “autoridade que tenha cometido crime de lesa-humanidade ou graves violações de direitos humanos”.
O primeiro nome da lista é o do ex-delegado chefe do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) Sérgio Paranhos Fleury. Foi sob seu comando que o Dops tornou-se um dos piores centros de tortura e morte da ditadura. Já tramita na Câmara dos Vereadores a proposta do PCdoB de trocar o nome de Fleury por um de seus torturados, Frei Tito, que se matou, aos 28 anos de idade, depois de 40 dias sob tortura.
Na capital paulista, há pelo menos 12 ruas, praças, avenidas e viadutos que levam nomes de autoridades do regime militar. A Comissão da Verdade da Câmara entrega à prefeitura, ainda esta semana, um pedido para que seja feito um mapeamento da cidade, com o cruzamento dos nomes ligados ao regime militar.
A Comissão estadual da Verdade, assim como a Comissão dos Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, quer que Haddad, por decreto, retire esses nomes de escolas e áreas públicas, como viadutos e praças.
O presidente da Comissão da Verdade do Rio, o advogado Wadih Damous, também quer um levantamento desses logradouros e pede alterações na legislação para que as mudanças sejam feitas:
— É descabido que, numa democracia, agentes da repressão e ditadores sejam homenageados — disse ele, lembrando que no Rio há a Ponte Costa e Silva (Rio-Niterói) e a escola Garrastazu Médici.
No Paraná, Norton Nohama, da Comissão Estadual da Verdade e do Fórum Paranaense de Resgate da Memória, Verdade de Justiça, afirmou que é preciso “fazer uma limpeza” desses nomes, mas sempre com a preocupação de que a sociedade compreenda o motivo dessas modificações.
Para a Secretaria de Direitos Humanos de São Paulo, é importante que as mudanças tenham participação da sociedade e não sejam impostas pelo poder público. Nos três estados, as Comissões da Verdade admitem que a troca de nomes das ruas pode causar problemas para os moradores.
Pequena, sem saída e tranquila, a Rua Dr. Sérgio Fleury, na Vila Leopoldina, é desconhecida da maioria dos moradores de São Paulo. Tem apenas 31 casas e um portão eletrônico que a torna quase uma rua particular.
— Fomos pegos de surpresa por essa notícia. Sou, particularmente, a favor da troca do nome. Desde que moro aqui, algumas vezes me perguntaram se o nome da rua era “daquele delegado da ditadura”. Mas o importante é que os moradores concordem, em maioria, com a mudança — diz a síndica da Dr. Sérgio Fleury, Andreia Riskala.
A síndica aponta alguns problemas, como a taxa de R$ 60 que deve ser paga pelo morador ao cartório para registrar a mudança de logradouro. Outro problema é a burocracia dos trâmites da transferência de nome para os serviços como luz, água e correios. Vereadores ouvidos pelo GLOBO informaram que podem criar, na própria lei que modifica o nome da rua, mecanismos que diminuam esse ônus para os moradores.
— Esse homem foi muito mau. Por que colocar o nome dele na rua? Todos têm de aceitar a mudança porque estamos no século XXI. É uma coisa de consciência — defendeu na quarta-feira a empresária Virgínia de Souza, que mora na Dr. Sérgio Fleury há mais de 20 anos.