AS PESSOAS NÃO VÃO SE CALAR
Justiça

AS PESSOAS NÃO VÃO SE CALAR


BONILLA. Responsable de proyectos para América Latina de WAN-Ifra (Captura web).

zero hora 08 de janeiro de 2015 | N° 18036

LÉO GERCHMANN


ENTREVISTA


RODRIGO BONILLA. Dirigente da WAN-Ifra

“As pessoas não vão se calar”



Gerente para América Latina da Associação Mundial de Jornais e Editores de Noticias (WAN-Ifra), Rodrigo Bonilla estava em Paris quando houve o atentado ao Charlie Hebdo. Em conversa por telefone, usou seis vezes a palavra “choque” para dizer o que sentia. Sua opinião: a França não vai se curvar ao terror, e a imprensa não deixará de informar, criticar e satirizar. Leia trechos:

O senhor está vivendo este momento em Paris. Qual o clima na cidade?

Eu estava agora em uma manifestação organizada pelas redes sociais, na Praça da República. O sentimento é de choque.

Muita gente na manifestação?


Não tenho os números, ainda não escutei rádio ou TV. O ato continua e ainda chegava gente quando saí. Quando cheguei lá, havia entre 5 mil e 10 mil pessoas, mas não parava de chegar gente. A manifestação foi espontânea e se espalhou por todas as cidades da França. É um movimento nacional, organizado em pouquíssimo tempo, em duas ou três horas. As pessoas se olhavam e diziam não entender como pôde ter ocorrido aquilo. O Charlie Heb- do faz parte das publicações tradicionais, críticas, satíricas, que conformam a paisagem midiática desde os anos 1960 na França. Isso atinge o coração da imprensa francesa e o conceito de liberdade que é o pilar da civilização ocidental. Não dá para acreditar que ocorreu no coração da França, de Paris, a 10 quadras de nosso escritório. Foi uma carnificina, que não tem como não provocar esse tremendo choque que sentimos.

Quais as palavras de ordem?

Sempre “Eu sou Charlie”.

Torna-se ainda mais significativo por ter ocorrido no berço do Iluminismo?


Sim, há pouco, na Praça da República, gritávamos pela liberdade de expressão. Todos pela democracia, por liberdade, igualdade e fraternidade. Havia bandeiras francesas. Foi um golpe direto na nação e nos direitos humanos. Pegaram no coração de uma sociedade que se funda nisso. As pessoas estão desorientadas.

É possível imaginar o que muda na sociedade francesa?

O que muda está por se ver. O que posso prever é um clima tenso, com uma direita e uma extrema direita que aumentam seu eleitorado. Pode aumentar a simpatia em relação a essas tendências. Minha opinião é de que esse episódio vai beneficiar a extrema direita. O que se sabe é que havia um fundo religioso.

Há temor de que cresça a islamofobia na França?

Deve aumentar o apoio às ideias da extrema direita e o medo ao Islã. Mas é importante assinalar que as grandes instituições muçulmanas francesas imediatamente, enfaticamente, condenaram o ato.

E a imprensa? Haverá autocensura? Medo?


Creio que não, que ocorrerá o contrário. Pelo que vi e pelo que representa a liberdade de imprensa na França, as pessoas não vão se calar, vão dizer as coisas mais do que nunca, vão continuar denunciando, criticando.

Haverá uma reação, então?


Sim, a violência não vai calar as vozes críticas, as vozes livres, satíricas. Morreram jornalistas, caricaturistas, pilares na imprensa francesa. É como se matassem grandes colunistas da imprensa brasileira.

Pelo simbolismo que representa e guardadas as proporções, pode-se fazer paralelo com o 11 de Setembro?

Guardando as distâncias de magnitude, simbolicamente passa perto, por quem fez e a quem fez. Da mesma forma que o 11 de Setembro foi um golpe ao Ocidente e a seus valores, aqui é um golpe não apenas à França, mas aos valores ocidentais.



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