Justiça
A LIÇÃO DE DIREITO DO STJ
- OPINIÃO, O Estado de S.Paulo - 12/06/2011Depois de anular os inquéritos criminais e as ações penais abertas com base na Operação Castelo de Areia, sob a justificativa de que a Polícia Federal procedeu irregularmente ao investigar denúncias - de corrupção, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, manipulação de concorrências, fraudes em editais e superfaturamento de obras públicas - feitas contra uma das maiores empreiteiras do País, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) voltou a tomar a mesma decisão com relação à Operação Satiagraha, que investigou acusações de crimes financeiros e de suborno formuladas contra o empresário Daniel Dantas, controlador do Banco Opportunity.
Por 3 votos a 2, a 5.ª Turma do STJ - que é a mais importante Corte do País depois do Supremo Tribunal Federal (STF) - considerou ilegal a participação de cerca de 80 membros da Agência Nacional de Inteligência (Abin) nas investigações conduzidas pelo delegado Protógenes Queiroz, da Polícia Federal. Deflagrada em 2008, a Operação Satiagraha envolveu interceptações telefônicas clandestinas e acessos a dados sigilosos sem prévia autorização judicial e culminou num embate entre o juiz da 6.ª Vara Federal Criminal de São Paulo, Fausto De Sanctis, que mandou prender Dantas, e o então presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, que mandou soltá-lo.
A exemplo do que ocorreu no julgamento dos inquéritos e ações penais abertos com base na Operação Castelo de Areia, o STJ reafirmou a jurisprudência da Corte, no sentido de que provas documentais obtidas por vias ilícitas e por violações das liberdades públicas e das garantias fundamentais não podem ser aceitas para fundamentar denúncias criminais, por parte do Ministério Público, e condenações, por parte do Poder Judiciário.
"Se a prova é natimorta, passemos desde logo o atestado de óbito, para que ela não seja utilizada contra nenhum cidadão. Essa volúpia desenfreada de se construir arremedos de prova acaba por ferir de morte a Constituição de 88. É preciso que se dê um basta, colocando freios inibitórios antes que seja tarde", disse o presidente da 5.ª Turma do STJ, ministro Jorge Mussi, depois de criticar a conduta do delegado Protógenes Queiroz, afirmando que suas arbitrariedades "contaminaram" as investigações.
Com essa decisão, o STJ anulou quase todas as provas coletadas pela Operação Satiagraha - e, por tabela, os três inquéritos policiais e a ação judicial dela decorrentes. A decisão tornou sem efeito a queixa por crime de suborno formulada contra Daniel Dantas pelo subprocurador-geral da República, Wagner Gonçalves, e suspendeu a sentença do juiz Fausto De Sanctis, que o condenou em primeira instância, bem como os despachos dos desembargadores do Tribunal Regional Federal da 3.ª Região, que negaram os recursos do banqueiro.
A decisão da 5.ª Turma do STJ foi proferida no mesmo dia em que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) reconheceu que o juiz De Sanctis - responsável por todas as decisões judiciais relacionadas à Operação Satiagraha - exorbitou de suas prerrogativas, ao autorizar a quebra de sigilos sem qualquer fundamentação técnica, como determina a legislação processual penal, e ao afrontar um ministro do STF. Segundo os conselheiros do CNJ, De Sanctis deveria ser punido com censura - mas, como ele foi promovido no ano passado para a segunda instância, pelo critério de antiguidade, nada lhe acontecerá, uma vez que a Lei Orgânica da Magistratura Nacional não prevê esse tipo de sanção para desembargadores.
A decisão da 5.ª Turma do STJ reforça o bom direito, num momento em que alguns policiais, procuradores e magistrados insistem em se apresentar como defensores da moralidade pública, dando mais valor a princípios doutrinários e ideologias políticas do que às normas de direito positivo, em suas operações, pareceres e sentenças. A decisão do CNJ é uma advertência contra o "ativismo" de operadores jurídicos que, a pretexto de fazer justiça social, desprezam garantias individuais, desfigurando o devido processo legal e subvertendo o Estado de Direito.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Tudo bem que o STJ tente evitar o "ativismo" de policiais, procuradores e magistrados que "insistem em se apresentar como defensores da moralidade pública", mas este deveria ser impedido lá na origem e não na corte suprema. Ao invés de anular provas para beneficiar o autor do ilícito, seria mais apropriado devolver à polícia para melhorar a investigação. E aí se revelam três das mazelas mais gritantes do sistema judiciário brasileiro - a burocracia, o descompromisso e a distância do poder das questões de ordem pública. O fato é que o esforço destes "ativistas" está sendo cerceado pela burocracia e morosidade da justiça brasileira que vem livrando bandidos da prisão e impedindo devolução dos valores roubados.
Por este motivo sou a favor de um juizado de garantia para que as ações policiais sejam supervisionadas pela Justiça, retornando em diligências quando as provas não forem suficientes. A polícia só não é função essencial à justiça no Brasil.
Da maneira como funciona no Brasil, a justiça fica desacreditada.
loading...
-
Excessos No Garantismo - Stj Cancela OperaÇÕes Da Pf
Procurador critica cancelamento de operações da Polícia Federal pelo STJ - O GLOBO, 13/06/2011 às 21h32m; Agência Brasil BRASÍLIA - O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, criticou nesta segunda-feira o cancelamento de operações da...
-
Mpf - OperaÇÃo Satiagraha Foi Legal
Satiagraha foi legal, afirma procurador da República. Rodrigo de Grandis avalia que Ministério Público Federal poderá ingressar com recurso para questionar decisão do STJ de anular as provas da operação - 08 de junho de 2011 | 21h 45 - Fausto Macedo,...
-
Satiagraha - ParticipaÇÃo Da Abin Tornou Ilegais InvestigaÇÕes
Participação da Abin tornou ilegais investigações da Operação Satiagraha - Coordenadoria de Editoria e Imprensa STF. A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) considerou ilegais as investigações da Operação Satiagraha e anulou a...
-
Juiz Que Condenou Daniel Dantas SerÁ Julgado Por Desobedecer Stf
Juíz que condenou Daniel Dantas agora será julgado. Presidente da Ajufe vai ao CNJ defender De Sanctis - Jornal do Brasil, 07/06/2011 - Luiz Orlando Carneiro O próprio presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil, Gabriel Wedy, fará...
-
Castelo De Areia - Stj Critica JuÍzes, Promotores E Policiais
STJ derruba ''Castelo de Areia'' - 07 de abril de 2011 - OPINIÃO O Estado de S.Paulo Foi exemplar a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre o recurso impetrado pela Construtora Camargo Corrêa, questionando a legalidade...
Justiça