Justiça
A GUERRA DO RIO - UMA INCURSÃO PELA CRUZEIRO OCUPADA
Uma incursão pela Vila Cruzeiro. Fios de energia elétrica queimados pendem sobre ruas sujas. Deixam sem luz casas, sobrados e barracos. Suas portas e fachadas estão repletas de buracos de bala. RODRIGO MÜZELL | ENVIADO ESPECIAL/RIO, Zero Hora, 27/11/2010
Vinte e quatro horas depois da chegada do Bope na ofensiva que foi considerada o Dia D da guerra contra o tráfico no Rio, Zero Hora subiu o morro da Vila Cruzeiro entre os resquícios da batalha. Nas calçadas da Rua Interna Vinte, um arremedo de vida normal começava a se restabelecer com a ocupação completa do morro pela lei.
Na tarde de ontem, moradores tomavam sua cerveja nas esquinas, garotos batiam bola próximo a montes de entulho resultante de um laboratório de cocaína deixado para trás pelos bandidos em fuga.
– Graças a Deus, o primeiro passo dessa guerra foi aqui – disse o motorista Rogério.
É só Rogério, sem sobrenome, como a maioria dos moradores que se dispõe a falar com jornalistas. O tráfico foi, mas pode voltar, argumenta uma dona de casa, que berrava contra a falta de luz que deixara comida estragar em seu freezer. Melhor não arriscar.
– O Beltrame (José Mariano, secretário de Segurança do Rio) vai pagar a minha comida estragada – decretava, para em seguida pedir para não ter seu nome citado.
As evidências dos anos de dominação pelo crime estão nas paredes, em pichações de símbolos e abreviaturas do Comando Vermelho e apelidos de seus chefes. Estão na memória de moradores os bailes funk promovidos pela facção criminosa – abadás que sobraram de uma festa recente, que sacudiu o morro, estavam empilhados em uma das esquinas ocupadas por soldados do Bope e por policiais civis.
As cinco quadras entre a Avenida Brás de Pina e o início da favela da Vila Cruzeiro tinham seu asfalto marcado pelas barreiras de caminhões, carros e motos queimados na quinta-feira pelos traficantes que tentavam brecar o avanço dos blindados. Duzentas motos foram recolhidas pelas autoridades.
Ontem, os blindados e caveirões guardavam a ação de garis e funcionários das companhias de luz e telefone, que tentavam normalizar a precária infraestrutura destruída.
Foram apreendidos 3,2 toneladas de maconha, 15 mil papelotes de cocaína, fuzis, metralhadores, granadas, bombas caseiras e farta munição na favela. Uma espécie de “enfermaria do tráfico”, uma casa com estrutura para receber bandidos com ferimentos graves, foi uma das surpresas que aguardava a tropa de ocupação.
Foi à tarde que os policiais chegaram em um laboratório de droga, ainda com balanças, prensa e sacos de cocaína deixados para trás nos três andares do barraco de alvenaria repleto de pichações em louvor a Deus.
Ao meio-dia, Jeferson Silva, 23 anos, deixava a vila com uma sacola na mão. Dentro, uma muda de roupas que pegara em casa – havia quatro dias, Jeferson dormia na farmácia em que trabalha, num shopping center, por medo de voltar para casa à noite.
– Deixei minha avó com um tio, em Olaria, e me arrisquei a pegar uma roupa hoje – explicou.
Mais tarde, a comerciária Andréia Moreira, 35 anos, descia novamente a rua para se queixar a “algum delegado”, disse. Ela também tinha deixado a casa vazia para dormir na casa de uma irmã. Quando voltou, ontem, tudo estava revirado e várias coisas foram roubadas – incluindo o álbum de um ano de sua neta:
– A polícia chega esculachando, quebrando tudo. O que vão fazer com foto de nenê?
O esculacho, ato de agredir, quebrar e ofender alguém aproveitando-se de ser mais forte em carioquês, era a principal queixa. Mas a maior preocupação é ver cumprida a promessa do governo de que o morro receberá, desde agora, uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).
– Porque não adianta fazer tudo isso se for para daqui a uma semana ir embora – arrematou Rogério, que gostaria de poder dizer o sobrenome.
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