VÍTIMAS DA AUSTERIDADE
Justiça

VÍTIMAS DA AUSTERIDADE


EDITORIAL ZERO HORA 08/05/2012

Nicolas Sarkozy, derrotado na eleição presidencial francesa pelo socialista François Hollande, é o 11º líder europeu derrubado pela crise econômica do continente e, principalmente, pela tentativa de aplicação de corretivos para o mal. Depois de décadas no mundo irreal do Estado de bem-estar social, em que o poder público assume a condição de promotor do desenvolvimento e pretende garantir bens e serviços aos cidadãos do berço ao túmulo em troca da cobrança de altas taxas de impostos, a Europa mergulhou numa profunda depressão, caracterizada por economias falidas e altíssimo desemprego. Em consequência, líderes políticos de diversos matizes ideológicos não tiveram outra alternativa a não ser o acatamento de um rigoroso plano de austeridade – e estão pagando caro pelo desgaste político dele decorrente.

Antes de Sarkozy, foram apeados do poder líderanças importantes como o trabalhista britânico Gordon Brown, o socialista espanhol José Luis Zapatero e o português José Sócrates. Até mesmo a alemã Angela Merkel, que dirige a economia mais forte do continente e lidera o pacto fiscal europeu, começa a sofrer desgaste interno. É tão grande a preocupação com o empobrecimento da Europa, que as posições políticas estão ficando em segundo plano. Mas a direita radical e xenófoba está ganhando força na maioria dos países afetados pela crise, pois, quando não há emprego para todos, os nativos passam a ver os estrangeiros como predadores.

A Europa perdeu o rumo – afirmou ontem o embaixador Marco Azambuja, em entrevista à Rádio Gaúcha, acrescentando que o Velho Continente está se tornando menos importante para o mundo. Na verdade, o mundo – inclusive os países em desenvolvimento que navegam numa aparente onda de prosperidade – deveria prestar muita atenção no que aconteceu com a Europa nos últimos anos e no que está acontecendo agora.

O Brasil, que vive hoje um cenário de pleno emprego, dificilmente conseguirá se manter alheio à crise se não promover reformas estruturais. E precisa ficar atento não apenas ao efeito dominó da economia globalizada, mas também aos danos colaterais do remédio amargo que está sendo aplicado na Europa doente. Mais do que vítimas da austeridade, os governantes ora execrados pelos europeus sofrem as consequências de um modelo equivocado de interferência excessiva do Estado na economia e na vida dos cidadãos, além da falta de regulação adequada do sistema financeiro internacional.

O desejável é que a União Europeia reencontre o rumo do crescimento, sem perder de vista as conquistas sociais acumuladas ao longo deste período de fantasia nem permitir que o radicalismo e a xenofobia assumam dimensões incontroláveis. Repetir o passado recente seria um retrocesso inaceitável, até porque – como ensinou Karl Marx – a História se repete apenas como farsa.



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