Justiça
O OVO DA XENOFOBIA
ZERO HORA 17 de fevereiro de 2014 | N° 17707
EDITORIAIS
S ão preocupantes, não só para os europeus, os retrocessos políticos que vêm ocorrendo, de forma quase disseminada no continente, em relação às conquistas da diversidade étnica e cultural proporcionadas pela formação do bloco econômico e pela própria globalização. Suíça, França, Espanha, Itália, Noruega e outros países têm adotado ou ensaiam adotar leis e normas que restringem imigrações, a livre circulação de pessoas e, o que é pior, o acesso ao trabalho de grupos étnicos específicos. O resultado disso é o aumento da xenofobia, que parecia ter sido pelo menos amenizada, nas últimas décadas, pelos esforços conciliatórios de governos e organismos multinacionais.
O fenômeno incorpora à representação política formal as vozes que muitas vezes se manifestavam à margem dos partidos e fortalece agremiações que, em alguns casos, são assumidamente racistas. Esse é o maior risco do que significa mais do que uma guinada conservadora. Analistas da gangorra europeia, que alterna ciclos à esquerda e à direita, enxergam o que vem ocorrendo como um dos altos custos a serem pagos pela deterioração econômica de vários países. O temor ainda maior da competição com grupos oriundos de outras regiões acaba por erguer muralhas que vão muito além da questão do emprego e da renda. Criam-se também barreiras sociais que constrangem e contribuem para a exacerbação de preconceitos.
Mesmo que os países sejam livres para estabelecer normas de conduta com autonomia, isso não os exime do olhar de estranhamento do Exterior, sempre que as atitudes contrariam a evolução das sociedades e da civilização. Os maus exemplos que vêm da Europa não podem prosperar em nações submetidas ao respeito às diferenças e ao multiculturalismo. O Brasil, ao contrário do que ocorre no velho continente, precisa fortalecer sua vocação como país cuja singularidade está exatamente nas múltiplas feições dos povos que construíram sua identidade.
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