VISÃO PREOCUPANTE
Justiça

VISÃO PREOCUPANTE



ZERO HORA 29 de março de 2014 | N° 17747


EDITORIAIS



São chocantes as conclusões de estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelando que os brasileiros ainda mantêm uma visão retrógrada e machista em relação ao papel da mulher na sociedade. Nada menos do que 65% das 3.810 pessoas de ambos os sexos entrevistadas em 212 municípios disseram concordar com a afirmação de que mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas. A conclusão, somada a outras igualmente inconcebíveis como a de que 58,5% justificam estupros pelo comportamento das mulheres , demonstra o quanto o país ainda precisa evoluir na área social, para assegurar mais igualdade de gênero, com efetivo respeito mútuo. Os avanços dependem de campanhas institucionais eficientes e de caráter permanente, além de uma aposta firme na área educacional.

Um dos aspectos promissores do levantamento é o de revelar que, embora a visão dos brasileiros seja marcada, de maneira geral, pela ambiguidade, é nas faixas de menor nível educacional que a intolerância costuma ser maior. Ainda assim, e embora essa realidade seja reproduzida de forma massificada e até mesmo celebrada em manifestações culturais como músicas e danças, são perturbadoras as conclusões do estudo, agora respaldadas em números. O que fica evidente é uma cultura marcada pela superioridade masculina, reforçada pela tendência à desqualificação do sexo feminino. Enquanto se mantiver preso a preconceitos e a concepções socioculturais deturpadas, o país não conseguirá resolver algumas de suas mazelas mais perturbadoras, a começar pela violência.

Conscientes do problema escancarado pelo levantamento, a sociedade e o poder público já vêm promovendo avanços de ordem legal que hoje estão na vanguarda da assistência a pessoas mais vulneráveis, como crianças, adolescentes, idosos e mulheres. Ainda assim, essa rede de proteção se choca com concepções pessoais largamente majoritárias, apesar de equivocadas. Uma delas é a de que, embora a violência física contra a mulher seja rechaçada e punida, uma imensa maioria ainda acredita que “em briga de marido e mulher, não se mete a colher”. E mais: que “roupa suja se lava em casa”. Esse olhar deformado para o problema ajuda a explicar tantos casos de violência doméstica e sexual, entre os quais o estupro, em grande parte cometidos, tolerados e acobertados no âmbito familiar.

Diante dos resultados, a presidente Dilma Rousseff advertiu ontem que “governo e sociedade devem trabalhar juntos para atacar a violência, dentro e fora dos lares”. O Brasil só será um país mais justo quando seus cidadãos conseguirem encarar-se uns aos outros com mais respeito, acima de quaisquer diferenças, o que depende sobretudo de um consistente avanço educacional e cultural.



loading...

- Mulheres Com Atendimento Deficiente
EDITORIAL CORREIO DO POVO, 02/07/2012 De acordo com a conclusão da comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) que investiga a violência contra mulheres, o atendimento a esse grupo vulnerável deixa muito a desejar em todo o país. Para a senadora...

- Lei Maria Da Penha - AvanÇos E Desafios
Cinco anos de avanços e desafios - MÁRCIA SANTANA, SECRETÁRIA ESTADUAL DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES DO RS - ZERO HORA 06/08/2011 Há cinco anos, no dia 7 de agosto de 2006, o Brasil dava um passo importantíssimo no enfrentamento da violência contra...

- Ela Estava Pedindo
28/03/2014 22h31 Para 65%, a vítima é culpada pelo estupro se usar short, decote ou saia curta RUTH DE AQUINO Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas. É uma afirmação forte. Leia novamente, por outro ângulo. Homens que...

- Pelo Fim Da ViolÊncia Contra A Mulher
Márcia Santana, Secretária de Políticas para Mulheres/RS - JORNAL DO COMERCIO, 28/11/2011 A celebração do Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra a Mulher, no dia 25 de novembro, deve estar ancorada em uma plataforma de reflexões...

- O Combate À MisÉria
EDITORIAL ZERO HORA 04/05/2011 Mesmo com os avanços registrados nos últimos anos na área educacional, o Brasil segue com uma taxa de escolaridade equivalente à do Zimbábue. Ainda assim, foi graças sobretudo às conquistas acumuladas na área do...



Justiça








.