DESCRÉDITO DE INSTITUIÇÕES faz crescer grupos fundamentalistas, como a direita radical europeiaNa tarde quente da última sexta-feira em Porto Alegre, 120 agentes da inteligência policial gaúcha se reuniram para uma operação atípica: a de apenas ouvir. Alguns a paisana, outros vestindo uniforme, acorreram à Federação Israelita para tomar lições na palestra de André Lajst, brasileiro radicado em Israel, onde estudou “Governo, diplomacia e estratégia” no Centro Interdisciplinar Herzeliah (IDC) – referência mundial em antiterrorismo.
Momentos antes da palestra, em entrevista a Zero Hora, Lajst definiu a atual exacerbação do fundamentalismo como reflexo do descrédito nas instituições, mesmo fenômeno que faz a extrema direita ganhar robustez na Europa.
– O extremismo usufrui das instituições democráticas. Um exemplo é a Inglaterra. Em democracias, não se fecham instituições religiosas, e há centros islâmicos radicais operando na Inglaterra – disse Lajst, citando o caso recente da decapitação do jornalista americano James Foley por um militante do Estado Islâmico (EI) que falava inglês com sotaque britânico.
– O que fazer? – perguntou o especialista, para logo responder – Só eficientes leis antiterroristas podem combater isso. Em países onde há menos centros de recrutamento, vigoram essas leis.
Lajst contou que, no Iraque e na Síria, há fundamentalistas que foram da Europa ao Afeganistão na década de 1980 combater a União Soviética. Hoje, estão no EI.
– Se a Síria fosse um país democrático, (o presidente) Bashar al-Assad já teria caído – assegurou.
Grupos como EI e Hamas se diferenciam pelos contextos, comparou. O EI tem foco global. O Hamas, local. Ambos, segundo Lajst, pregam a criação do “wakaf”, o território sagrado islâmico. No caso do EI, o objetivo é implementar o califado do século VII nas re- giões que eram muçulmanas durante o Império Otomano e depois estendê-lo mundo afora.
– É uma visão política, que determina que sua religião é a correta, com os outros sendo infiéis, que devem ser convertidos – afirmou.
O EI, que instalou o califado no norte do Iraque e no leste da Síria, pretende alcançar Jerusalém, disse o especialista. E isso foi encorajado pelas revoltas na chamada Primavera Árabe (levante ocorrido contra os governos de países árabes).
– É o lado perverso da Primavera Árabe, que se tornou o “outono islâmico” – comentou. – O EI mata quem não se converte. Os governos atuais pelo menos aceitam formas diferentes de religiosidade.
O delegado Paulo César Jardim, que ganhou notoriedade por investigar neonazistas, assistiu à palestra atentamente. Mas ponderou:
– No Brasil, nossa cultura não aceita esse tipo de ideologia.