RECAPTURA DE LÍDER DO PGC E REAÇÃO DO CRIME ORGANIZADO
Justiça

RECAPTURA DE LÍDER DO PGC E REAÇÃO DO CRIME ORGANIZADO


Prisão de “Gângster” não esconde problemas - DIOGO VARGAS - DIÁRIO CATARINENSE, 04/05/2011

A recaptura de “Gângster”, a reunião das cúpulas da Segurança Pública e do Tribunal de Justiça e greves de fome em seis presídios catarinenses, ocorridos ontem, têm um ponto de convergência: o crime organizado em Santa Catarina. Juntas, as ações do governo resumem o esforço do Estado para conter a articulação dos presos dentro e fora das cadeias – houve ordens de assaltos e ataques a delegacias e a postos da PM. Mas mostram, também, problemas, como o vexame que a fuga impôs à Polícia Civil e ao Departamento de Administração Penal (Deap) – nenhum dos dois assume a culpa. As ações apontam, ainda, a tentativa de aparar arestas entre o governo e a Justiça. O primeiro reclama que há demora em decretar prisões preventivas. O segundo alega que não há provas suficientes para isso.

Era questão de honra para a polícia recapturá-lo. Davi Schroeder, o Gângster, 27 anos, causou vexame à segurança pública e ao sistema prisional ao escapar pela janela de um hospital. A liberdade durou 37 horas.

A recaptura de “Gângster”, a reunião das cúpulas da Segurança Pública e do Tribunal de Justiça e greves de fome em seis presídios catarinenses, ocorridos ontem, têm um ponto de convergência: o crime organizado em Santa Catarina.

Juntas, as ações do governo resumem o esforço do Estado para conter a articulação dos presos dentro e fora das cadeias – houve ordens de assaltos e ataques a delegacias e a postos da PM. Mas mostram, também, problemas, como o vexame que a fuga impôs à Polícia Civil e ao Departamento de Administração Penal (Deap) – nenhum dos dois assume a culpa.

As ações apontam, ainda, a tentativa de aparar arestas entre o governo e a Justiça. O primeiro reclama que há demora em decretar prisões preventivas. O segundo alega que não há provas suficientes para isso.

O assaltante, tido como perigoso e um dos líderes da facção criminosa PGC, que manda ameaças e ordena crimes de dentro das cadeias, está novamente atrás das grades. Foi uma resposta rápida em meio ao jogo de “empurra” sobre a responsabilidade da fuga, ocorrida no domingo à tarde, em Florianópolis.

Gângster desafiou a polícia ao se aproveitar da frágil – e quase inexistente – segurança que o fiscalizava há 16 dias no Hospital Nereu Ramos, na Agronômica. Foram duas semanas sem ninguém armado por perto.

Os mais próximos eram agentes prisionais desarmados e que assistiam a uma partida de futebol quando ele foi resgatado.

Na nova caçada, a Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic) contou com a sua rede de informantes espalhada pelo Estado. Na tarde de segunda-feira, a pista: “Tem gente estranha na área”. Do outro lado da linha, a denúncia ouvida por policiais que um desconhecido ocupava na Praia Brava, em Itajaí, um apartamento normalmente desabitado nesta época do ano.

Com binóculo, ele observava tudo

O prédio já foi um hotel. Hoje abriga quitinetes de temporada por ser perto do mar. Ali, Gângster ficou refugiado até a manhã de ontem. Com um binóculo, espiava pela janela a movimentação ao redor.

No dia anterior, estranhara ao ver um Palio Weekend branca estacionar na rua em frente. Ficou aliviado ao ver um casal de namorados.

Os investigadores montaram campana discreta em volta. Sabiam que ele estava no prédio. Depois, a certeza que ocupava o primeiro andar. Com mandado de busca pedido às pressas e expedido em seguida pela Justiça de Itajaí, restou a eles aguardar o começo da manhã para invadir o local. Assim que o relógio bateu 6h, os policiais se aproximaram.

Na porta do apartamento, armaram um artefato explosivo para abrir a porta. O estrondo foi seguido da invasão de um grupo de 20 policiais civis fortemente armados. A ordem era atirar em caso de qualquer reação, mas não foi necessário: o criminoso foi surpreendido na cama. Ao se entregar, pediu para não ser morto. A polícia filmou toda a ocupação da moradia até a sua dominação, que durou menos de dois minutos.

O fugitivo estava sozinho na companhia de uma televisão. Suspeita-se que iria para Balneário Camboriú e depois a uma cidade no interior ou até mesmo para o Paraguai.

– Fácil não foi (a recaptura), mas foi rápida – resumiu o diretor da Deic, delegado Cláudio Monteiro.

– É muito sensacionalismo – disse Gângster aos jornalistas quando indagado da sua periculosidade e suposta liderança de facção.

O preso

Davi Schroeder, 27 anos, tem três condenações por assaltos e porte de arma na Grande Florianópolis.

- As suas penas de prisão alcançavam 10 anos, quatro meses e 20 dias e foram cumpridas (teve alvará de soltura em março deste ano).

- Em 2010, ficou seis meses em prisão domiciliar decretada pela Justiça em razão dos problemas de saúde.

- Foi absolvido por acusação de tráfico de drogas em 2004 e assassinato em Florianópolis.

- Vai a júri popular no dia 19 deste mês, em Palhoça, por tentativa de homicídio contra policiais militares na fuga de um assalto.

Três razões para a fuga do hospital - diario.com.br - PEDRO SANTOS

Há pelo menos três razões para a fuga de Davi Schroeder do quarto do hospital: a ausência de escolta armada da Polícia Millitar no local (conforme prevê normatização interna da segurança pública); o desleixo do agente prisional, que estava lá vendo jogo naquele horário; e a ausência de comunicação entre a Deic, o Deap e a própria PM para a necessidade de mantê-lo sob vigilância 24 horas.

Durante os 16 dias em que esteve internado com meningite, Gângster estava preso por correntes nos pés. Durante todo o tempo, ele ficou sem vigilância. Em prisões em flagrante, a norma adotada pela polícia é solicitar imediatamente a vaga no sistema prisional, o que teria sido feito pela Deic.

O pedido foi feito, mas Gângster, preso no dia 9 do mês passado, não chegou a ingressar no sistema porque das celas da Deic ele foi direto à internação no hospital.

O delegado Cláudio Monteiro, diretor da Deic, afirmou ontem que a responsabilidade da Deic, acaba depois de entregar a custódia para o Deap. Para o diretor do Deap, Adércio Velter, o suspeito ainda não havia entrado no sistema prisional catarinense e a custódia ainda estaria à cargo dos policiais que efetuaram a prisão.

Conforme o advogado criminalista Francisco Emanuel Campos Ferreira, o protocolo para a entrada de presos em hospitais exige que pelo menos um agente ou policial fique com o detento ou no próprio quarto de internação ou nas saídas possíveis – portas e janelas. Além do que o suspeito deve continuar algemado.

– Não dá para dizer exatamente o que aconteceu nesse caso específico, mas houve negligência – avalia.

Na Defensoria Pública em Execução Penal da União (DPU) também há dúvidas sobre quem seria responsável pela custódia de Davi Schroeder. Sempre que um preso necessita de atendimento médico-hospitalar, um protocolo é aberto no Deap, que faz o requerimento sobre o número de agentes e eventual reforço policial, que depende da periculosidade do preso.

– Sei que ele (Davi Schroeder) não havia sido internado em nenhum estabelecimento prisional, mas ainda assim alguém teria que estar vigiando – argumenta a defensora pública Vanessa Barossi.

As duas prisões

Em 25 dias, Davi Schroeder, considerado um dos principais homens do PGC fora da cadeia, foi preso duas vezes.

9 DE ABRIL - A Deic deflagra a operação Al Capone e prende Gângster em sua casa, em São José. Outras cinco pessoas são presas, entre elas a sua mulher, Thaise Danielle da Conceição. O grupo foi preso em flagrante por tráfico de drogas e quadrilha.

11 DE ABRIL - O delegado da Deic, Cláudio Monteiro revela que os presos são integrantes da facção criminosa que age das cadeias catarinenses. Aponta Gângster como um de seus líderes fora da cadeia e diz que ele seria o “disciplina” (responsável em executar ordens vindas da facção).

12 DE ABRIL - O DC publica reportagem sobre cartas apreendidas com o grupo em que havia suposto plano de morte do diretor da Penitenciária de São Pedro de Alcântara, Carlos Antônio Gonçalves.

15 DE ABRIL - Gângster é atendido pelo Samu na carceragem da Deic por problemas de saúde e levado pela polícia para o Hospital Nereu Ramos, na Agronômica, onde já havia sido internado em anos anteriores por meningite. O diretor da Deic afirma que conversou com o diretor do Deap, Adércio Velter, e pediu segurança para o preso no hospital. Monteiro afirma que Adércio lhe disse que poderia enviar ao hospital agentes prisionais que trabalham atualmente na 2ª DP de São José.

18 DE ABRIL - O juiz da 1ª Vara Criminal de São José, Marcelo Carlin, recebe ofício da Deic informando sobre o encaminhamento de Gângster ao hospital.

1 DE MAIO - 16h30 - Gângster foge do hospital. Ele tira a corrente que o prendia na cama com óleo, pula a janela e lá fora é resgatado por um motociclista. O agente prisional que estava no local e fazia “acompanhamento” dos presos internados assistia, no momento, ao jogo entre Avaí x Chapecoense. Não havia policiais militares no local para a chamada “escolta” de presos.

2 DE MAIO - Os secretários da Segurança Pública, Justiça e Cidadania, direção da Deic e do Deap fazem jogo de “empurra” sobre a responsabilidade da fuga no hospital. Ninguém assume a culpa ou alguma falha na segurança do preso. A SSP informa que um inquérito na 5ª DP investigará a fuga. Por volta das 19h, A Deic descobre que Gângster está escondido em Itajaí e pede à Justiça local mandado de busca e apreensão para entrar no local.

3 DE MAIO 6h - A Deic invade o apartamento, encontra Gângster e o recaptura. Ele é trazido para a sede da diretoria, em Florianópolis, e novamente apresentado.



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