PAPEL DE ESTABILIZADORES
Justiça

PAPEL DE ESTABILIZADORES


FOLHA.COM 31/03/2014 - 11h00

Militares assumiram o papel de 'estabilizadores' na história do Brasil

da Livraria da Folha



Os militares de 1964 reivindicavam uma linhagem política que tinha origem no tenentismo –a insurgência no Forte de Copacabana e na Escola de Realengo–, na Coluna Prestes, no movimento de 1930, na Revolução Constitucionalista, na Constituinte de 1934 e em 1954, quando Getúlio Vargas cometeu suicídio.

Segundo Hélio Silva (1904-95), em "1964: Golpe ou Contragolpe?", os militares assumem a função de árbitro e estabilizadores quando julgam que o sistema existente está ameaçado.

"A origem política do 31 de março decorre a crise institucional já delineada desde os primeiros anos de vigência da Constituição de 1946", conta. "Essa crise tem como traço fundamental a separação cada vez maior entre a nação e sua representação, gerando episódios dramáticos que assinalam os últimos anos, sobretudo a partir de 1954".

Em 1961, com a renúncia de Jânio Quadros, o Brasil estava em uma crise política, um desses períodos em que as Forças Armadas decidem que existe perigo para o país e que, principalmente, a sociedade não é capaz de lidar com o problema sozinha.

"Encontramo-nos, precisamente, naquele momento, em fase de carência de lideranças políticas, suscetíveis de conduzirem a uma saída institucional", diz. "E, na ausência delas, tenderia, naturalmente a preponderar o formalismo jurídico, que se expressava na posse ao eleito".

Jânio disse que "forças terríveis" –e não ocultas, como foi divulgado na época– conspiraram para tirá-lo do poder. Terrível ou não, essa "força" sinalizou a derrocada da democracia brasileira. João Goulart (1919-76), vice-presidente eleito, assumiu o cargo.

Divulgação

"1964: Golpe ou Contragolpe?" complementa o Ciclo de Vargas


Jango perdeu, gradativamente, apoio político. Ele era achincalhado pela direita e esquerda brasileira, mesmo por aqueles que não desejavam a ditadura militar.

"A posse de Jango era vetada por destacados chefes militares. Um grupo de líderes políticos, reunidos na casa do antigo ministro da Justiça do presidente Café Filho, José Eduardo do Prado Kelly, no próprio dia da renúncia, considerava a investidura do vice-presidente uma temeridade para as instituições".

Em "1964: Golpe ou Contragolpe?", o autor apresenta antigos personagens que circulavam no ambiente político e recupera os momentos que precederam a eclosão do regime militar.

Formado em medicina, Hélio Silva (1904-95) trabalhou como jornalista. Na década de 1930, já colunista influente, foi proibido de exercer a profissão, afastado no início da Era Vargas. Foi chefe da sucursal no Rio da "Folha da Noite", de São Paulo, e, em 1959, começou a publicar suas pesquisas sobre a história do Brasil.

Entre outros títulos, ele é autor de "1889 - A República Não Esperou o Amanhecer", "1922 - Sangue na Areia de Copacabana", "1926 - A Grande Marcha", "1930 - A Revolução Traída", "1931 - Os Tenentes no Poder", "1932 - Guerra Paulista", "1933 - A Crise no Tenentismo", "1934 - A Constituinte", "1935 - A Revolta Vermelha", "1937 - Todos os Golpes se Parecem", "1938 - Terrorismo em Campo Verde", "1939 - Vésperas de Guerra", "1942 - Guerra no Continente", "1944 - O Brasil na Guerra", "1945 - Por que Depuseram Vargas" e "1954 - Um Tiro no Coração"

"1964: Golpe ou Contragolpe?" faz parte de um exercício de relatar a trajetória da República, nascida nos fins do século 19 e vitima de golpes e insurreições que contradizem o espírito cordial dos brasileiros.

Hélio Silva fez voto de pobreza e recolheu-se ao Mosteiro de São Bento, no Rio, no início dos anos de 1990.


1964: GOLPE OU CONTRAGOLPE?
AUTOR Hélio Silva
EDITORA L&PM Editores



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