Justiça
OS FINS E OS MEIOS
PIO GIOVANI DRESCH, PRESIDENTE DA AJURIS - ZERO HORA 04/04/2012
Os fins justificam os meios.
A assertiva, tão banal, é, todavia, expressão de uma das grandes indagações morais que acompanham a humanidade. Dificilmente haverá na história um genocídio que não tenha resultado de algum objetivo supostamente justo, para cuja obtenção qualquer meio podia ser utilizado.
Utilizado para pequenas decisões do nosso dia a dia, talvez o princípio nos seja útil, mas, aplicado às questões da política e da sociedade, essa subordinação dos meios ao resultado desejado se tornará muito perigosa.
Lembro disso a propósito do pagamento da Parcela Autônoma de Equivalência (PAE). Admito, para fins de raciocínio, a sinceridade e nobreza de propósitos de quem propõe audiência pública que discuta sua legalidade.
(Evidentemente, há uma contradição entre a condição de militante de uma causa e a de ouvidor: ter posição pronta e querer convencer dela a sociedade é diferente de ouvir a sociedade para chegar a uma posição. Tome-se isso, todavia, como mera digressão; por isso, os parênteses.)
O que, todavia, deve ficar claro, é que séculos de tentativas, erros, acertos e teorizações resultaram no Estado democrático contemporâneo, em que um conjunto de regras, construídas com muito esforço, estabeleceu fins (por exemplo, a construção de uma sociedade livre, justa e solidária) e meios (por exemplo, o devido processo legal).
Os fins não se fazem com a supressão dos meios.
A separação dos poderes e a instituição dos Tribunais de Contas como órgãos de fiscalização das contas públicas é uma conquista da sociedade. No momento em que a legalidade da PAE está em julgamento no Tribunal de Contas, a realização de uma audiência pública pelo Legislativo com a mesma finalidade é de uma infelicidade ímpar, só superada pelo pedido feito a um conselheiro, de só retomar o julgamento após a audiência pública.
Não cabe duvidar da sinceridade de quem vê ilegalidade no pagamento da Parcela Autônoma, mas é impossível concordar com a afirmação de que a audiência pública é o lugar para explicar a legalidade.
Este lugar é, hoje, o Tribunal de Contas. É ele que dirá se há alguma ilegalidade.
Não. Os fins não justificam os meios. E de boas intenções o inferno está cheio.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Sou plenamente favorável ao pagamento do auxílio-moradia para os juízes e para todos os demais servidores públicos (Executivo, Legislativo e Judiciário). O Brasil é um país republicano e o princípio da "equivalência" entre os Poderes deve ser estendido a todos e não apenas aos juízes (Judiciário) e parlamentares (Legislativo) em nome da harmonia e integração dos Poderes de Estado. É justo este direito para todo servidor público nomeado para desempenhar seus deveres em cidades e logradouros onde tenha que alugar uma moradia condizente para a função que exerce.
Só não concordo com privilégios, movimentações atípicas e uso de uma balança da justiça pendendo só para o lado de seus membros, esquecendo a moralidade do ato, a situação dos demais servidores públicos e as demandas do povo por uma justiça séria, proba e confiável. O Poder Judiciário, apesar de independente, não é um Poder separado do Estado. A harmonia, a equivalência e a integração entre os Poderes são vitais para o governo de um país. A atuação da justiça brasileira lembra o clero nos tempos medievais onde a preocupação era com o bem estar de seus membros sem perder a ligação com os nobres que governavam os feudos e reinos. O povo só servia para gerar recursos e acreditar na fé. Está na hora de mudar esta postura, sob pena do povo passar a desconfiar do foco e da probidade de um poder vital para a democracia e paz social.
Os fins só podem justificar os meios quando o interesse público estiver ameaçado, mesmo assim cercado pela lei que o Poder Judiciário tem o dever de aplicar e respeitar.
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