Foto: LEO RAMIREZ / AFP
Milhares de opositores e chavistas saíram às ruas de Caracas neste sábado, na zona leste da cidade para exigir o desarmamento dos grupos paramilitares e no centro para pedir o fim da violência, após quase três semanas de protestos estudantis com saldo de dez mortos.
Em Caracas, ao menos 50 mil pessoas atenderam à convocação do líder opositor Henrique Capriles e foram às ruas para exigir o desarmamento dos grupos paramilitares e protestar contra a crise econômica.
Os opositores se reuniram nas proximidades de um centro comercial de Sucre, reduto da oposição que foi, ao lado do vizinho Chacao, cenário de protestos noturnos, que em alguns casos viraram batalhas campais com as forças de segurança e com a intervenção de civis armados apontados como membros dos denominados "coletivos", simpatizantes do chavismo.
"O Estado deve deter estes grupos que atuam como paramilitares. É inaceitável que existam grupos armados que estão fora de controle", disse à AFP Ramón Guillermo Aveledo, um dos líderes da Mesa de Unidade Democrática (MUD), que aglutina a oposição.
"Já não aguentamos a situação do país. Não é justo que estando em um dos países mais ricos do mundo não possamos conseguir comida, que matem nossos amigos e reprimam nossos protestos", disse à AFP Joel Moreno, estudante de 24 anos, que veio de Barquisimeto (oeste) para participar do protesto.
A passeata da oposição deste sábado foi convocada por Henrique Capriles, governador de Miranda e candidato derrotado por pequena margem pelo presidente Nicolás Maduro na eleição de abril de 2013.
Os protestos, que começaram com estudantes de San Cristóbal e contra a insegurança que afeta o país, chegaram a outros pontos da Venezuela e passaram a ter outros temas, como a crise econômica, a inflação, a repressão policial e a libertação dos detidos nas manifestações.
A onda de manifestações já deixou dez mortos, segundo fontes oficiais, sendo seis por disparos de armas de fogo, três por acidentes de trânsito ligados aos protestos, e um por circunstâncias ainda não apuradas.
Os manifestantes também demonstram apoio a Leopoldo López, outro líder opositor e principal promotor dos protestos, que está em prisão preventiva desde terça-feira em uma unidade militar na região Caracas, acusado de estimular a violência.
Maduro chama os protestos de "golpe de Estado em desenvolvimento", nega qualquer vínculo com grupos armados ilegais e atribui a violência a pistoleiros colombianos contratados pela oposição.
No centro de Caracas, reduto governista, uma multidão, em sua maioria do sexo feminino, participava na manifestação "mulheres pela paz e pela vida", convocada pelo chavismo.
"A Venezuela é um país de paz e não pode se transformar nisto. O que querem estes estudantes? Somos gente de paz. Esperamos que tudo se normalize. Deixem o presidente governar, ele foi eleito democraticamente", explicou à AFP Josefina Lisset, 54 anos, estudante universitária graças a um programa social.
Os dois protestos ocorrem em zonas opostas de Caracas, e a possibilidade de que se encontrem em algum ponto causa alarme em um país altamente polarizado.
Segundo o governo, os protestos afetam "apenas" 18 dos 335 municípios da Venezuela e serão controlados por meios constitucionais, legais e pacíficos.
Capriles ratifica liderança
Com sua convocação para o protesto deste sábado, Capriles volta a se colocar na liderança da oposição, após o domínio dos últimos dias do setor radical da Mesa da Unidade Democrática, cujos dirigentes promovem a estratégia de ocupar as ruas para exigir a "saída" do governo.
"Este governo é um erro na história, mas não podemos sair deste erro para incorrer em outro erro. Temos que construir uma força tão grande que seja capaz de atrair os que levam o lenço vermelho (do chavismo)", decretou Capriles.