Luiz Raatz, enviado especial a CaracasCARACAS - A Guarda Nacional Bolivariana (GNB) e o Exército foram acionados na quinta-feira 20, no Estado de Táchira para desmobilizar as manifestações de rua contra o governo venezuelano. O serviço de internet na capital San Cristóbal teria sido bloqueado, segundo o jornal El Nacional. Durante a noite, pelo segundo dia seguido, motociclistas armados dispararam contra quem batia panelas nos edifícios da cidade.
Rodrigo Abd/AP
Venezuelanos montam barricadas em Caracas
A situação no Estado andino fronteiriço com a Colômbia - tradicional reduto antichavista - se agravou depois de o presidente Nicolás Maduro ter ameaçado, em discurso na noite de quarta-feira, decretar estado de exceção para controlar a região e compará-la com Benghazi, onde começou o movimento que derrubou o ditador líbio Muamar Kadafi, em 2011. "Não permitirei que Táchira se transforme em uma nova Benghazi", disse o presidente.
Moradores de San Cristobal relatam também cortes no serviço de energia elétrica, em horários distintos dos que ocorrem normalmente em função da precária infraestrutura do sistema elétrico venezuelano. Além disso, o acesso aos supermercados de San Cristobal era restrito quinta-feira, com a prioridade sendo dada a idosos.
"Estão dando prioridade à terceira idade, mas temos de entrar na fila todo dia, porque os mercados não estão abertos normalmente, só até a 1h30 da tarde", disse a consumidora Esperanza Araque ao El Nacional. "A compra de alimentos com preço regulado está restrita a uma ou duas unidades por pessoa."
O líder da oposição Henrique Capriles criticou a resposta de Maduro à crise em Táchira. "Maduro tem raiva de Táchira. O chavismo ganhou no Estado nas últimas eleições em razão da alta abstenção", disse Capriles à CNN. "Ele deveria ir para lá para resolver a crise."
Na madrugada desta sexta-feira, 21, houve protestos em outros Estados venezuelanos, como Mérida e Carabobo. "Em Táchira o governo bloqueou a internet e mandou a GNB reprimir as passeatas. Até aviões usaram", disse um dos manifestantes, que preferiu não se identificar, ao Estado.
Em Caracas, os protestos de quinta-feira pela noite foram de menor intensidade em relação aos últimos dias e sem confronto com a GNB. Dezenas de manifestantes voltaram a fechar a Avenida Francisco de Miranda com lixo queimado e barricadas de ferro retorcido e arame.