O TEMOR DA REVOLTA DOS DE FARDA
Justiça

O TEMOR DA REVOLTA DOS DE FARDA



Jorge Luiz Paz Bengochea - 06/06/2011- O GLOBO

Tenho a mesma opinião do presidente da OAB-RJ, Wadih Damous , que, achando justa e legítima a ação dos bombeiros, fez duras críticas a ela. Acredito também que foi um erro imperdoável o ato de invadir o quartel-general, um santuário da corporação e sede de uma instituição gloriosa e heroica que é o Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro.

O local certo para protestar é em frente e nos bastidores do palácio do governo estadual e da Assembléia Legislativa, onde estão os verdadeiros responsáveis pelas más condições salariais e de trabalho tão reclamadas pelos servidores militares estaduais. A pressão deveria ser em cima destes mandatários e de forma pacífica, para não perder o apoio e a confiança da sociedade.

Já é passado o tempo em que os comandantes militares estaduais tinham força política para reivindicar salários e condições de trabalho para as suas tropas. São os ventos de uma democracia que só tem privilegiado as classes mais altas do poder, desprezando os agentes da segurança, da saúde, da educação e da defesa civil.

Mas, estes fatos ocorridos no Rio deveriam servir de alerta para os governantes em todo o Brasil começarem a rever comportamentos e buscarem a solução para este estado de insegurança funcional e financeira pelo qual passam os agentes da segurança pública e da defesa civil, sem falar dos da educação e da saúde.

O descaso com a PEC 300 que não sai das tramitações do "triângulo das bermudas" existente no Congresso Nacional, onde o marasmo, a ausência, o corporativismo, as farras com verbas públicas e as omissões delineiam a imagem daquele poder, estimula um crescente descontentamento dentro das forças policiais e de bombeiros.

Enquanto magistrados e políticos conseguem somar reajustes salariais extravagantes e privilegiados contando com a força do poder, isonomias e efeito "cascata", os servidores do Executivo buscam no bico a sobrevivência e a dignidade para sustentar suas famílias e buscar motivação para continuar colocando as suas vidas na proteção do cidadão brasileiro.

Nem o dispositivo constitucional que impede greves e nem as limitações impostas pelas normas militares estão conseguindo deter este descontentamento que pode levar a atitudes radicais como motim, insubordinação e quebra da disciplina e da hierarquia nos quadros militares estaduais. Portanto, senhores mandatários, acordem. O momento não é de omissão, nem de cegueira.



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