ZERO HORA 29 de março de 2014 | N° 17747
ARTIGOS
por Marco Dangui Pinheiro*
A propósito do editorial de 27 de março de 2014, do jornal ZH, gostaria de contrapor alguns aspectos.
Preciso me identificar: sou coronel da reserva do Exército brasileiro e nas últimas eleições municipais de Porto Alegre concorri a vice-prefeito na coligação PSDB-PRP. Estou desfiliado atualmente.
A ver. Não discordo de nenhuma linha do que foi publicado, mas não me conformo com o que não foi dito. Faltou o contraponto para contextualizar os fatos em nome do bom jornalismo; como está, as conclusões do editorial me soaram capengas, canhestras, tendendo à leviandade.
Creio que haja fatos e circunstâncias históricas que não podem ser esquecidos nessa análise: a esquerda marxista queria implantar um regime socialista/comunista no Brasil, desde 1935; boa parte dessa esquerda elegeu a guerra revolucionária, e não a política, para atingir seus fins. Finalmente, a partir de 1964, conseguiu o grande mote para justificar a luta armada e motivar os brasileiros para a luta de classes: o combate à “ditadura”. Para isso, desenvolveu ações violentas, terrorismo mesmo, como guerrilhas, assaltos, sequestros, justiçamentos, execuções de inocentes, brasileiros e estrangeiros condenados por seus tribunais revolucionários (sim, havia julgamentos), atentados, e por aí vai.
“Tudo isso não justifica as violências praticadas pelos militares nos ‘porões da ditadura’”! Claro que não, mas a realidade nem sempre segue modelos ou teorias: se as forças de segurança tivessem tido conhecimento prévio do atentado ao QG do II Exército em São Paulo, em 68, o soldado Mário Koesel Filho não teria sido despedaçado na explosão de um carro-bomba, ação perpetrada pelo grupo terrorista do qual fazia parte a nossa presidente Dilma. Pergunte aos pais do soldado, que ainda estão vivos, o que eles pensam a respeito. Em episódio da Guerrilha do Araguaia, o jovem João Pereira foi esquartejado vivo, na frente dos pais, pelo grupo armado do José Genoino, porque teria colaborado com os militares. Há que se pensar no que aconteceu quando esses militares encontraram o grupo guerrilheiro na selva, apesar de o tal Genoino ser hoje deputado federal cassado e estar bem vivo, mesmo que condenado pelo STF por malfeitos com o dinheiro público.
Como no editorial citado, hoje não se fala sobre a atuação da esquerda revolucionária no Brasil. Toda a ação violenta é atribuída aos militares, num malabarismo retórico execrável.
Como brasileiro e como militar, não aceito tentarem encurralar as Forças Armadas como se elas fossem um ente usurpador da pátria. Em 35, em 64 e em 1970, os militares combateram um inimigo interno, e não brasileiros que queriam melhorar a nossa democracia. Os modelos desses inimigos eram URSS, China e Cuba, todos países socialistas/comunistas de partido único. Foi uma guerra suja, entre brasileiros, que manchou nossas mãos de sangue, mas não só as nossas.
Na minha concepção, as FFAA brasileiras venceram o cruento embate para o bem do Brasil. Juro que não queria e não quero ver meus descendentes vivendo sob o tacão de um facínora tipo Fidel Castro, há mais de 50 anos no poder em Cuba e que destruiu as esperanças daquele povo.
Mas, a considerar o Foro de São Paulo, os modelos e os objetivos continuam os mesmos para os marxistas brasileiros. Assim, enquanto a imprensa brasileira não condenar esses regimes, que patrocinaram os maiores genocídios do mundo, onde o que aconteceu no Brasil não serve nem de prólogo para as ações que eles desenvolveram para conquistar e manter o poder, não consigo, como cidadão, atribuir legitimidade às críticas ferozes exaladas para os “excessos” praticados nos porões do regime militar brasileiro do período 64/84.
Sob pena de o Brasil incorrer no mesmo erro do passado, os fatos que embasam a sua história devem ser corretamente delineados, principalmente por um veículo de informação tão expressivo como o jornal ZH, para evitar a repetição no futuro.
*CORONEL DA RESERVA DO EXÉRCITO
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