LENTA E DESIGUAL
Justiça

LENTA E DESIGUAL



ZERO HORA 26 de novembro de 2012 | N° 17265. ARTIGOS


Cláudio Brito *


Até assumir a presidência do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa julgou réus em processos criminais, atribuiu direitos a demandantes em processos cíveis e cumpriu rigorosamente todos os deveres assumidos em 2003, quando chegou à condição de ministro.

Na posse como presidente, julgou o Judiciário.

E, com a mesma repercussão de seus atos à frente do processo do mensalão, seu discurso impressionou, convenceu e traduziu o sentimento da sociedade brasileira ante questões como o acesso à Justiça e sua efetividade. Joaquim não vacilou e centrou sua primeira fala na morosidade e na desigualdade. Joaquim não acredita que possa ser infalível a Justiça que tarda. Só por ser lenta, é falha. Não se lê nem se ouve oposição ao presidente do STF, salvo algum tímido e imperceptível reparo que algum descontente tenha pretendido fazer.

Enche de entusiasmo o começo da era Joaquim, mas é bom lembrar que ele está naquele plenário há quase uma década. Ser presidente é consequência que alcança a todos, por rodízio e antiguidade. Sua chegada ao tribunal é que foi histórica, quebrou preconceitos, como ocorreu com Ellen Gracie, a primeira mulher. Velhos padrões foram arrasados pelas nomeações dele e dela. Oriundos do Ministério Público, ele e ela foram indicados pelo notável saber jurídico, que confirmaram a cada julgamento.

Por isso, o currículo e a prática do jurista Joaquim Barbosa representam tanto ou mais que a condição de ocupante da primeira cadeira do tribunal. Mesmo sua avaliação da Justiça repete algumas frases que ele já pronunciara nas sessões em que defendeu seu relatório do processo do mensalão. Sua pregação é pela transparência, sua intenção é que o povo possa, cada vez mais, acompanhar a cena judiciária compreendendo tudo o que esteja sendo feito. Procurará ser didático e lutará para que o mesmo jeito conduza seus pares. Justiça também é, ou talvez seja principalmente, linguagem, compreensão, entendimento, composição, mediação, erradicação dos litígios. Joaquim Barbosa sabe disso muito bem e vai querer que o Brasil aprenda esse modo de construir e fazer Justiça.

Joaquim lembrou a dívida social da Justiça, na medida em que bilhões de reais são gastos anualmente pela máquina judiciária, mas seus resultados não correspondem ao que aspiramos. Vem aí um tempo sem firulas, sem floreios, sem rapapés. O presidente do tribunal promete um Judiciário célere e efetivo. E justo, por suposto.

Como se pronunciasse uma sentença, falou: “De nada valem as edificações suntuosas, sofisticados sistemas de comunicação e informação se, naquilo que é essencial, a Justiça falha. Falha porque é prestada tardiamente e, não raro, porque presta um serviço que não é imediatamente fruível por aquele que a buscou”.

Só cabe um acréscimo às frases de Joaquim: cumpra-se.

*Jornalista



loading...

- O Mutante Supremo
O GLOBO 01/07/2014 6:00 Artigo JOAQUIM FALCÃO O problema de Joaquim Barbosa não é um problema de Joaquim Barbosa. É de todo e qualquer presidente do Supremo. Passados, presente, como Ricardo Lewandowski, e futuros. O mandato é de apenas dois anos....

- SÍmbolo Contra O Status Quo E PerÍodo Muito Agitado
Ministro Barroso diz que Barbosa se tornou ‘símbolo contra o status quo’. Para Gilmar Mendes, STF viveu período muito agitado com julgamento do mensalão e temperamento de Barbosa POR EVANDRO ÉBOLI E EDUARDO BRESCIANI O GLOBO 01/07/2014 10:06...

- Chicana Foi Demais
ZERO HORA 19 de agosto de 2013 | N° 17527 Cláudio Brito* Por mais que tivesse razão e não tinha Joaquim Barbosa não podia fazer o que fez. O presidente do Supremo Tribunal Federal não está autorizado a ofender seus pares. Infelizmente, avançou...

- JudiciÁrio Sem Floreios
ZERO HORA 23 de novembro de 2012 | N° 17262 EDITORIAIS Há muitas razões para explicar o fato de, pela primeira vez na história, a posse de um ministro na presidência do Supremo Tribunal Federal (STF) ter sido acompanhada com tanta atenção pelos...

- O ImplacÁvel Joaquim Barbosa
  JORNAL DO COMÉRCIO 04/09/2012 Adão Oliveira. Conexão Política O temperamental ministro Joaquim Barbosa, o primeiro negro a assumir uma vaga no Supremo Tribunal Federal, tem se notabilizado pelo rigor com que julga os réus da Ação Penal...



Justiça








.