FALÁCIAS DO DECANO
Justiça

FALÁCIAS DO DECANO




FOLHA.COM 27/09/2013

Editorial


Sobre os ombros do ministro Celso de Mello pesaram, entre os dias 12 e 18 deste mês, as esperanças, as aflições e os desejos dos réus do mensalão e de milhões de brasileiros que acompanharam, com interesses variados, a longa novela em que se transformou o julgamento.

Coube ao decano do Supremo Tribunal Federal, como se sabe, proferir o voto de desempate na questão dos embargos infringentes, permitindo a alguns condenados apresentar mais um recurso --decisão que esta Folha apoiou no editorial "Não é pizza" (19/9).

Sendo conhecidos os predicados históricos e o inegável alcance político da ação penal 470, parece natural que Celso de Mello tenha percebido, nesse julgamento, pressão maior que a de costume. Não se trata, sob nenhum ponto de vista, de processo corriqueiro, e os próprios ministros deixaram isso claro durante as sessões.

Tivessem ficado por aí, as declarações de Celso de Mello à jornalista Mônica Bergamo, veiculadas ontem nesta Folha, seriam apenas o desabafo de um juiz que se viu objeto das atenções --e das críticas-- de boa parte da opinião pública.

O ministro, no entanto, deu um passo adiante. Embora diga que se sentiu "absolutamente livre" para decidir, afirma ter observado, nos "meios de comunicação", uma insólita intenção de "subjugar a consciência de um juiz".

Há dois aspectos preocupantes na assertiva. Primeiro, a generalização apressada --um tipo bastante comum de falácia, mas incômodo quando contamina o argumento de um ministro do Supremo.

Ainda que houvesse a tal tentativa de subjugação, seria impróprio tratar todos os veículos de comunicação como um corpo monolítico. Se muitos opinaram contra o cabimento do recurso, tantos outros manifestaram-se a favor dele.

Segundo --e mais importante--, a confusão entre a legítima manifestação de opinião na esfera pública e a perniciosa tentativa de intimidar magistrados.

Celso de Mello tem razão ao lembrar que, pelo bem do Estado de Direito, os juízes não podem ver sua atuação cerceada. Isso significa que não devem ser objeto de suborno ou de ameaças. Nada que se confunda, portanto, com o direito de crítica --ou de elogio-- exercido sob a luz do sol.

O próprio Celso de Mello diz não questionar a liberdade da imprensa. Se é assim, não deveria equiparar as críticas --a que um ministro do STF naturalmente está exposto-- àquele comportamento inaceitável. Fazê-lo, além de ser outra falácia, configura um desserviço ao debate público.



loading...

- MensalÃo IrÁ Para As Calendas
ZERO HORA 21 de setembro de 2013 | N° 17560 PAULO SANT’ANA O ministro Celso de Mello deve estar realizado e contente com a obra de seu voto de desempate no Supremo. Agora, o julgamento do mensalão irá para as calendas, expressão que se usa para...

- Toga ImpermeÁvel
ZERO HORA 19 de setembro de 2013 | N° 17558 PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA Para mudar o voto que estava pronto e renegar uma convicção expressa há mais de um ano, o ministro Celso de Mello teria de fazer um movimento difícil para um juiz: dizer...

- BenefÍcio Da RÉus NÃo É AutomÁtico, Fiz Ministro Do Stf Celso Mello
FOLHA.COM. 16/09/2013 - 03h55 SEVERINO MOTTA DE BRASÍLIA Responsável pelo voto de desempate que definirá se 12 dos 25 condenados no mensalão terão direito a novo julgamento, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Celso de Mello disse ontem...

- Uma Luz No Final Do TÚnel Contra A Impunidade
ZERO HORA 16 de setembro de 2013 | N° 17555 EXPECTATIVA NO MENSALÃO. Ministro afirma não sentir pressões Dono do voto que vai encerrar impasse no STF, Celso de Mello diz que aprofundou sua convicção Sob pressão de colegas contrários à...

- Sob O Olhar Da NaÇÃo
ZERO HORA 13 de setembro de 2013 | N° 17552 EDITORIAIS É quase uma crueldade que a decisão mais importante do mensalão, de encerrar o julgamento com as punições aos réus que receberam aplausos da opinião pública ou de aceitar um recurso que...



Justiça








.