Justiça
CHAMAS DA INSANIDADE
Na manhã seguinte à instalação dos contêineres para coleta de lixo de Porto Alegre, levei meus dois filhos adolescentes à escola. Ao passar pela Avenida Osvaldo Aranha, avistei os primeiros equipamentos que chamaram a nossa atenção. Conhecedor da experiência de Caxias do Sul, elogiei a iniciativa, mas observei o olhar de descrédito de Henrique, 15 anos:
– Pai, quantos dias será que vai levar para destruírem ou atearem fogo ao primeiro contêiner? – disse o guri
Pensei em repreendê-lo pelo pessimismo matinal, mas refleti sobre a afirmação enquanto observava a curiosidade dos pedestres que avistavam a novidade em outras ruas da Capital.
Um dia depois do episódio, a população porto-alegrense acordou estarrecida pela notícia do incêndio de pelo menos dois contêineres. Vândalos ignoraram o aço galvanizado que reveste os caixotes e a vigilância das inúmeras câmaras de segurança espalhadas pela Capital.
O convívio com esta horda de desajustados diante do patrimônio de todo gênero é diário para os porto-alegrenses. Paradas de ônibus, bancos escolares, fachadas de prédios, lixeiras, placas de trânsito, nada escapa à fúria insana destes ignorantes.
Apesar da revolta, minha maior mágoa envolve a reação do meu filho adolescente. Preocupa constatar que um jovem esteja contaminado pelo pessimismo realista da nossa sociedade. Existe um adágio em que se pergunta a diferença entre otimista e o pessimista. “O pessimista é um otimista bem informado”, reza o texto. Esta parece ser a realidade que nos cerca.
É inútil manter a Guarda Municipal de prontidão, multiplicar as câmeras de segurança que vasculham as ruas ou estimular a população a acionar o disque-denúncia. Nenhum aparato de segurança será suficiente para combater os reflexos cumulativos do descaso de décadas com a educação do país.
Enquanto a utopia não vira realidade, torço para que o fogo dos insanos não destrua a esperança do meu filho na humanidade.
GILBERTO JASPER, JORNALISTA - ZERO HORA, 15/07/2011COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - O filho adolescente do jornalista (ZH 15/07) pode enxergar uma das causas da impunidade. Por que as autoridades competentes, especialistas e de nível superior não conseguem enxergar? Eles precisam tirar a venda para que a justiça seja respeitada e a pena temida, caso contrário a ordem pública jamais será respeitada no Brasil.
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