EDITORIAL
Primeiro os Estados Unidos disseram que continuarão a espionar a tudo e a todos, “contra o terrorismo”. Agora, o Canadá também dá de ombros e pouco comenta a divulgação de espionagem feita no Brasil. A simplória desculpa é a de que nenhuma lei canadense ou cidadão do país foi desrespeitado. Claro, nem interessava, ora. O povo estadunidense tem medo das sombras da luta contra o terrorismo, um legado desastroso do governo de George Bush. No entanto, as áreas escuras da administração de Barack Obama e a espionagem institucional promovida desde Washington assustaram o mundo. A rigor, muito mais a nós, ingênuos brasileiros.
O jornalista Glenn Greenwald sabe dessas questões com rigor e vendeu, em pílulas, o que lhe foi passado por Edward Snowden, hoje refugiado na Rússia.
Glenn Greenwald tem paixão pela profissão e mantém o seu compromisso para com ela, com uma carreira que vai muito além do caso das revelações do ex-integrante terceirizado da Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) e da Agência Nacional de Segurança (NSA, também na sigla em inglês), Edward Snowden. Glenn Greenwald é o jornalista que, mês após mês, tem publicado no seu jornal, o londrino The Guardian, o conteúdo de Edward Snowden, cujo enorme dossiê lhe foi entregue em Hong Kong antes de ele se refugiar na Rússia. Snowden não o escolheu de forma aleatória, pois Greenwald é coautor de renome na investigação que abalou o sistema político americano e tornou-se um dos 50 comentaristas mais influentes nos EUA. Um advogado de profissão, em 2005 Greenwald deixou sua carreira de representante legal de alguns bancos e de grandes empresas e se lançou na defesa dos direitos civis e em investigações de alto nível. Naquele mesmo ano, um caso de espionagem pela NSA revelado pelo The New York Times impeliu-o a divulgar críticas através de seu blog, sob o nome de Patriot Act, que viria a tornar-se um livro. No ano seguinte, o ativista rigoroso publicou um livro sobre o legado trágico do governo Bush. Em 2012, nova obra-prima sobre a forma como a lei é usada para destruir a igualdade e proteger o poder nos EUA, com liberdade e justiça para alguns, e de como a lei é usada para destruir a igualdade e proteger os poderosos.
Entre um livro e outro, o explosivo Greenwald realizou uma pesquisa sobre WikiLeaks e seu autor, Julian Assange, e Bradley Manning, o soldado que entregou a Assange dados secretos. Premiado várias vezes pelo seu trabalho, Glenn Greenwald define o jornalismo militante de uma forma: “Para mim, o jornalismo é duas coisas: pesquisar fatos sobre as atividades de pessoas que estão no poder e colocar nelas os limites do povo”. Esse é o homem a quem, depois de The Washington Post se recusar a publicar, Edward Snowden entregou os documentos abismais estruturados pela NSA para espionar por meio do programa chamado Prisma, um dispositivo com empresas privadas como o Google, Facebook, Yahoo, Microsoft e outras. Glenn Greenwald se radicou no Brasil há vários anos e é correspondente do The Guardian. Então, o Brasil precisa criar mecanismos de inteligência e proteção das suas comunicações e não reclamar da espionagem dos poderosos, os quais pouco têm ligado.