Justiça
ATENTADO À JUSTIÇA - CAPITÃO QUE COMANDOU SEGURANÇA DE JUÍZA FOI ACUSADO DE CHEFIAR MILÍCIA
Escolta sob suspeita. Capitão que comandou segurança de juíza assassinada foi acusado de chefiar milícia - O GLOBO, 19/08/2011 às 08h51m; Chico Otavio (
[email protected]) e Gustavo Goulart (
[email protected])
RIO - O capitão da reserva da PM Nelson Ruas dos Santos, de 53 anos, identificado pela juíza Patrícia Acioli, em 2009, como amigo e responsável pela indicação dos militares que faziam a sua segurança, está citado no relatório da CPI das Milícias, da Alerj, como suspeito de chefiar um grupo paramilitar no Jardim Catarina, em São Gonçalo.
Eleito vereador do município nas últimas eleições pelo Partido Social Cristão (PSC), com 6.095 votos, Capitão Nelson era considerado um dos poucos oficiais egressos do 7º BPM (São Gonçalo) em quem a juíza, assassinada com 21 tiros no último dia 11 , confiava. Em 2009, quando Patrícia se envolveu numa briga de rua, foi Nelson, em companhia do coronel Marcos Jardim, que a socorreu.
O capitão teria se aproximado da magistrada há dez anos, quando chefiava a P2, serviço reservado do 7ºBPM. Em 2002, ele passou a escolher os soldados que integrariam a segurança de Patrícia, todos da P2. De lá, saíram para o gabinete de Patrícia os cabos Marcelo Poubel Araújo, com quem ela teria um relacionamento amoroso, e Wladimir Damasco Freitas, o Porca Russa, assassinado com 20 tiros em outubro de 2009.
Divulgado em 2008, o relatório final da CPI das Milícias requereu providências urgentes ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e ao Ministério Público Eleitoral contra candidatos às prefeituras e às Câmaras do Rio, "com o fim de evitar formação de currais eleitorais por coação ou clientelismo". Nelson encabeçava a lista de suspeitos.
A página do relatório que descreve a atuação das milícias em São Gonçalo aponta Capitão Nelson como chefe de um grupo composto por 14 pessoas, responsável pela cobrança de pedágio a moradores, comerciantes e donos de vans do Jardim Catarina. O bando também era acusado de explorar TV a cabo ilegal.
Procurado pelo GLOBO, o capitão da reserva disse ter sido investigado pela Polícia Federal e pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco). Segundo ele, nenhuma das denúncias acusando-o de ser chefe de milícia foi confirmada.
- O relatório original da CPI das Milícias inseriu até denúncias feitas ao Disque-Denúncia, sem nenhuma comprovação. Já fui investigado e nada ficou provado contra mim. Podem vir a São Gonçalo e perguntar quem é o Capitão Nelson, que só ouvirão coisas boas - afirmou o vereador, que está em seu segundo mandato.
O militar da reserva contou ter conhecido a juíza durante investigações de crimes que ela julgaria. De acordo com ele, a relação se tornou mais próxima em 2001, quando ela o procurou pedindo ajuda. Patrícia descobrira ameaças de morte e perguntou se ele poderia fazer parte de sua segurança pessoal.
- Respondi que sim, desde que autorizado pela Secretaria de Segurança e pelo comando da Polícia Militar. Levei-a ao encontro do comandante da PM e ela fez a solicitação. Depois, escolhi quatro homens da minha confiança para a sua escolta. Eu era chefe da 2 Seção do 7 BPM e passei a comandar a sua segurança. Fiquei com ela até 2002, quando saí para fazer um curso. Mas a relação ficou próxima - explicou.
Em julho de 2009, ao ser cobrada pelo então presidente do Tribunal de Justiça do Rio, desembargador Luiz Zveiter, sobre uma briga de rua em que se envolvera, Patrícia explicou, em ofício, que o problema aconteceu em Porto das Pedras (São Gonçalo), em frente a um clube de pássaros, quando saiu em perseguição a um soldado da PM, Michel Leandro Duarte, que teria ameaçado de morte seu companheiro, o cabo Poubel.
Ao tentar prendê-lo em casa, Patrícia se atracou com a avó do policial. Depois da confusão, Nelson esteve no local para ajudá-la. No mesmo ofício, em que também explica as razões pelas quais teria investigado um oficial da Divisão de Segurança Institucional do TJ, a juíza conta que Nelson teria sinal verde do comando da Polícia Militar para selecionar os homens da sua segurança pessoal. Ela explicou que optou pelo capitão por não confiar na equipe de segurança do TJ.
O advogado Técio Lins e Silva, contratado pela família da juíza para acompanhar as investigações sobre o assassinato de Patrícia, disse desconhecer que o vereador Capitão Nelson tenha sido o responsável pela segurança da magistrada.
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