A LIÇÃO DAS GREVES
Justiça

A LIÇÃO DAS GREVES


EDITORIAL ZERO HORA 10/10/2011


Serviços essenciais não podem ser sonegados à população, sejam eles prestados pelo poder público ou pela iniciativa privada. Na recente greve dos Correios, a Justiça determinou que 40% dos trabalhadores se mantivessem em atividade, para prestar pelo menos um atendimento mínimo aos usuários. Mas muita gente não chegou a receber suas contas a tempo de evitar multas e juros. E, quando conseguiu tê-las em mãos, acabou esbarrando na porta fechada dos bancos, alguns dos quais sequer se preocuparam em garantir um funcionamento mínimo dos serviços.

É compreensível que, ante a iminência de um agravamento da crise econômica, categorias mais organizadas do setor público ou da iniciativa privada se preocupem em garantir o máximo de recomposição dos salários. Ainda assim, essa é uma negociação que precisa se pautar pelo bom senso exigido num contexto de estabilidade, no qual a insistência na indexação dos salários implica o risco de mais inflação. E greve, em qualquer circunstância, deveria ser sempre o último recurso para os trabalhadores.

O que se constatou nos últimos dias é que, mais uma vez, a opção de algumas categorias funcionais foi simplesmente a de transferir o ônus de suas estratégias para os usuários dos serviços. O resultado foram as filas registradas nas lotéricas e a dificuldade de muita gente pagar suas contas ou receber seus vencimentos, entre outras razões, pelo desconhecimento sobre o uso de cartões.

Os problemas só atingiram essas proporções porque alguns dos movimentos reivindicatórios têm fortes implicações políticas, com interesses que transcendem a simples reposição salarial. Ao mesmo tempo, são resultantes da falta de uma regulamentação clara sobre o que é legal ou não nessas circunstâncias. Não é justo que a sociedade, no conjunto, continue arcando com o ônus das reivindicações de minorias.



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