Justiça
TORTURADOR CONFESSO DA DITADURA É EXECUTADO EM ASSALTO
ZERO HORA 26 de abril de 2014 | N° 17775
ANOS DE DITADURA. Torturador confesso é assassinado
Um mês após revelar atrocidades no regime militar, coronel Paulo Malhães é encontrado morto em casa com sinais de asfixia
Torturador confesso, o coronel reformado do Exército Paulo Malhães, 77 anos, foi encontrado morto ontem em Nova Iguaçu, no Rio. Segundo a polícia, o corpo tinha sinais de asfixia. Há um mês, Malhães relatou à Comissão Nacional da Verdade (CNV) participação em torturas, mortes e ocultação de cadáver no regime militar. E assumiu ter sumido – voltando atrás dias depois – com o corpo do deputado paulista Rubens Paiva, desaparecido em 1971.
A viúva, Cristina Batista Malhães, contou à polícia que três homens invadiram o sítio de Malhães na noite de quinta-feira à procura de armas – o coronel era colecionador. Disse que ela e o caseiro foram amarrados pelos invasores e trancados em um cômodo, das 13h às 22h. Os ladrões fugiram com celulares, computadores, impressoras, joias, quatro armas e R$ 700.
O delegado Fábio Salvadoretti disse que a suspeita é de que Malhães tenha sido assassinado. Segundo ele, a mulher revelou em depoimento que os assaltantes estavam na casa quando ela e o militar chegaram. E contou que só um dos três homens estava encapuzado. Antes de irem embora, eles soltaram Cristina e o caseiro.
A polícia busca imagens de câmeras de segurança que possam auxiliar na identificação dos criminosos. Segundo o delegado, não há indícios de que o coronel tenha sido torturado, mas a investigação trabalha com três linhas:
– Pode ter sido latrocínio (roubo com morte), vingança ou crime relacionado com o depoimento prestado por ele à Comissão da Verdade.
Filha mais velha do coronel, a médica Karla Malhães contou que a família “está surpresa” e garantiu ter conversado com o pai sobre possíveis represálias em função do depoimento, mas Malhães negou ter recebido ameaças. Karla observou que Malhães se isolou ainda mais da família depois de confessar as torturas e sequer quis comemorar o aniversário dele, no dia 17.
– Dissemos a ele que não devia ter falado, tanto tempo depois, ainda mais sem nos preparar. Nunca entendemos por que ele decidiu falar – disse Karla.
Presidente da Comissão Estadual da Verdade do Rio, Wadih Damus disse que a morte pode ter sido “queima de arquivo” e garantiu que a comissão vai cobrar uma investigação minuciosa sobre a morte do militar:
– Pode ter sido por encomenda.
Coordenador da CNV, Pedro Dallari pediu ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que a Polícia Federal acompanhe as investigações e solicitou agilidade e rigor no caso.
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