17/01/2014
Sobre os “rolezinhos”
Valter Nagelstein
Marxistas transformam tudo em luta de classe. A tese mais recente envolve os chamados “rolezinhos”. Tal tese, fruto de um raciocínio intelectualmente desonesto, diz que há criminalização de uma manifestação que é somente social. A tese é falsa por duas causas. Primeiro porque pobre, por sê-lo, não está proibido de ir a qualquer lugar, a qualquer shopping inclusive. Segundo porque os tais movimentos (as aglomerações) descambaram, invariavelmente, para a desordem, colocando em risco bens, fruto do trabalho de pessoas, e, mais importante, a segurança de pessoas que estão nesses espaços que são de domínio comum, os shoppings.
Eu que costumo afirmar que existem práticas comerciais que devem ser coibidas e abusos punidos (como os 20 minutos de tolerância nos estacionamentos), lembro que os shoppings centers não representam o mal do capitalismo na sua forma mais perversa, encarnado no consumismo, no luxo, na ostentação, como sustentam uns. O shopping é comércio, atividade tão antiga quanto o homem e a própria vida em sociedade. Nenhuma burocracia nem utopia criadas no século XX conseguiram oferecer alternativa melhor. Valores imateriais tais como a paz pública é que são importantes para que a sociedade viva exatamente em paz.
A visão revolucionária diz o contrário: que aqueles espaços constituem “monopólio” de uma “classe alta” ou “elite” e que por tal devem ser tomados, à força inclusive, para que os bens do capitalismo possam ser desfrutados por todos os “explorados”. Que bom se o Estado conseguisse dar ao cidadão parques e praças que fossem seguros, equipados e atrativos. Aí quem sabe, de forma espontânea, a sociedade tornaria os parques e as praças (e não os shoppings) os grandes espaços de convivência social.
Vereador/PMDB, ex-secretário da Smic
20/01/2014
Nagelstein e os “rolezinhos”
Fredo Tarasuk
Acho engraçado como os liberais sempre colocam a culpa no marxismo. Logo ele, que só existe por causa do capital. Vejamos. O artigo escrito pelo vereador Nagelstein, edição do dia 17/1/2014, do Jornal do Comércio, é um tanto curioso: ele afirma que o pobre pode ir a qualquer lugar, e que não há proibição alguma. Isso é inverídico. Vamos lá! Começo pelo preço da tarifa do transporte público em Porto Alegre, que não proporciona a possibilidade efetiva de locomoção. Exceto quando a tarifa é paga pelo empregador, o que é uma lei! Esse é um dos questionamentos levantados pelos membros do Bloco de Luta Pelo Transporte Público (os temidos marxistas): por que não isentar estudantes e desempregados? Por que só quem trabalha tem o direito a se locomover? E quem quer e precisa trabalhar, mas que não tem trabalho, como fica? Enfim, voltemos ao rolê, rolé, ou coisa que o valha.
O barramento de pessoas normais acontece, sim! Pessoas como eu, você e o Johnny do Morro da Conceição, vereador. Ele não é um ser humano igual a mim e a você? Imagina se o senhor fosse barrado no shopping (como o Johnny possivelmente foi, nos rolezinhos ocorridos na Capital), qual seria a reação? Quando um shopping center recorre à Justiça para emplacar uma liminar que impede a entrada das pessoas, o senhor não pode dizer que não há proibição. Sejamos adultos.
Sobre a visão de que o encontro foi marcado apenas para criar algazarra e desordem, acredito que o vereador deveria ser mais humano e refletir - logo ele, que é um político profissional, que deve pensar sempre na população em primeiro lugar - sobre as implicações socioculturais que os rolezinhos causam. Uma segregação étnica, seguida de mais segregação baseada em poder econômico e, para completar, uma distorção dos fatos. Os prejuízos materiais, que foram destacados, ocorreram apenas em casos isolados. É adequado procurar e ler as notas emitidas pelos centros comerciais, onde minimizam e especificam bem que os casos de roubo são pontuais. E, por favor, seja mais humano.
Analista de social media, libertário e estudante de Jornalismo