SÍNDROME DA CLASSE MÉDIA
Justiça

SÍNDROME DA CLASSE MÉDIA


O rico não sabe que é rico. Um em cada cinco pobres não se acha pobre. Ambos sofrem da síndrome de classe média.

Apenas 1% dos que estão no topo da pirâmide social brasileira se reconhecem abastados. Praticamente dois terços desses que estão na mais alta faixa de renda dizem que são classe média. O resto não aceita tal régua e se diz “trabalhador”.

A camada intermediária incha em toda pesquisa que pede para o entrevistado dizer qual sua classe. Não é preciso ir à Sorbonne para entender o porquê.

Como não dá para calcular sua posição na escala social sem se comparar aos outros, seu lugar será sempre relativo. O mesmo 1,80 metro que garante a posição de pivô no time de basquete dos pigmeus, é insuficiente para ser armador na NBA.
Numa autoclassificação por renda, a maioria dos indivíduos olha para um lado e vê que há gente mais rica do que ele; olha para o outro e nota que há também mais pobres. Logo, seu lugar deve estar no meio.

Em pesquisa CNI/Ibope de 2008, 42% dos brasileiros se autoclassificam como “classe média” (“alta”, “baixa” ou sem adjetivos) e 19% como “classe trabalhadora/operária”.
Ideologias à parte, os ditos trabalhadores/operários estão mais perto do extrato superior do que do terço que se considera na “classe baixa/pobre”. Comparando sua renda com a dos outros, pelo menos metade deles seria classe média.

Desde que a pesquisa foi feita, há quase três anos, mais pessoas emergiram economicamente. Mantido o crescimento do consumo, a classe média será ainda mais majoritária em 2014.

Como resultado, se um candidato for à TV e pedir o voto de quem é da classe média, ele terá boas chances de sair com mais eleitores do que inimigos. Há um inconveniente, porém: não será o único político fazendo esse apelo eleitoral.

PT e PSDB vêm buscando o voto da classe média há várias eleições. Descobriram que há diferentes classes nessa média: os emergentes, os decadentes e os estáveis; subidividos em estudantes, estudados e sem-estudo; em crentes, agnósticos e não-praticantes; além de ricos, pobres e remediados.

Acertar o discurso para cada segmento é um problema, porque muitas vezes os interesses são contraditórios. Os ricos reclamam dos impostos altos, por exemplo, enquanto os pobres acham que eles são necessários para garantir saúde e educação. É natural: estes usam muito os serviços públicos, aqueles, pouco.

Os ricos têm dificuldades de se saberem ricos porque a dispersão da renda é maior na ponta mais afluente da escala. Proporcionalmente, a desigualdade é mais aguda entre os ricos do que entre os pobres.

Segundo a PNAD 2009, o rendimento do 1% mais rico é o triplo do que ganham os 4% do degrau imediatamente anterior. Ou seja: a não ser que seu nome seja Eike Batista, sempre haverá alguém ganhando muito mais do que você e será fácil de notar pelo modelo do carro, pelo tamanho da casa ou pela autonomia do jatinho.

Na frase entreouvida em um grupo de pesquisa qualitativa sobre a nova classe média: “Rico é quem tem lancha”. Com barcos financiados em 48 prestações no cartão de crédito, já há quem diga que rico é quem tem vaga em marina.

Entre os ex-pobres, os signos da diferença social são mais prosaicos: um celular inteligente, uma conexão rápida à internet no computador de casa.

Como nota o pesquisador Maurício Moura, muitas novidades consumidas pelos emergentes implicam mais acesso à informação, o que os torna permeáveis, ou pelo menos acessíveis, ao discurso da oposição. Daí talvez Fernando Henrique Cardoso descartar “as massas carentes e pouco informadas”.

Mas não basta ter acesso ao alvo. O discurso precisa acertar. Em propaganda recente, o PSDB reclama das filas nos aeroportos. São filas que incomodam o eleitor tradicional do partido, mas que foram formadas pelo afluxo de novos passageiros, os mesmos emergentes que os tucanos querem conquistar.

O PSDB tem mais um motivo para apurar o discurso. Dilma Rousseff está com aprovação superior ao seu porcentual de votos no 2º turno de 2010. Logo, uma parcela dos eleitores de José Serra em 2010 aprova o governo da petista. Seriam eles de classe média? Podem não ser, mas acham que são.

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO, O ESTADO DE SÃO PAULO, 24/04/2011



loading...

- Rolezinho, O NÃo Compreendido
JORNAL DO COMÉRCIO 16/01/2014 Bruno Moura Surpreendente é a nossa classe média desconhecer (ou ignorar) a existência de jovens de baixa renda vindos de regiões periféricas da cidade. Exemplo disso ocorreu no caso dos rolezinhos, e, não entrando...

- Desigualdade Persistente
27 de agosto de 2012 | 3h 08 OPINIÃO O Estado de S.Paulo A América Latina é a região do mundo com a maior desigualdade, e o Brasil é o quarto país mais desigual da região, mostra o relatório Estado das Cidades da América Latina e do Caribe...

- As Classes MÉdias Na Berlinda
ZERO HORA, 01 de julho de 2012 | N° 17117. ARTIGOS FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX-PRESIDENTE DA REPÚBLICA  Desde abril até agora viajei bastante, saindo e voltando ao Brasil. Fui aos Emirados Árabes, ao México, ao Japão, à China...

- Brasil, O CampeÃo Mundial Da Felicidade
PESQUISA MUNDIAL. Pesquisa da FGV em parceria com a Gallup revela que, pela quarta vez, os brasileiros lideram ranking de satisfação com a vida - ZERO HORA 08/03/2012 Dados da pesquisa “De volta ao País do Futuro”, produzida pelo Centro de Políticas...

- Classe MÉdia, PovÃo E Lorota
Com sua acurada visão, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso quis indicar um rumo aos correligionários, mas acabou produzindo um charabiá, ou seja, uma baita confusão na esfera política. Em polêmico artigo para uma revista, propôs que as oposições...



Justiça








.