PACIFICAÇÃO - ROCINHA VIVE ERA DE OTIMISMO
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PACIFICAÇÃO - ROCINHA VIVE ERA DE OTIMISMO



ENFIM LIBERDADE. Morador conta como os traficantes dominavam a favela e fala sobre a esperança depois da ocupação pelas forças de segurança - ZERO HORA 14/11/2011

Não só a presença constante de bandidos armados e o tráfico de drogas nas ruas. Até ações triviais como tentar melhorar a coleta de lixo ou realizar um baile funk eram problema para quem mora na Rocinha, no Rio de Janeiro, uma das maiores favelas da América Latina. Tudo dependia da boa vontade dos traficantes que dominavam o morro.

Épor isso que o otimismo era o sentimento que essa comunidade mostrava ontem, ainda que com cautela, após a ocupação, sem nenhum tiro, da favela pelas forças de segurança do Estado do Rio, com o apoio da Polícia Federal, dos Fuzileiros Navais e de veículos blindados da Marinha.

Pai de dois filhos, um de 16 anos e outro de 15 anos, o comerciante e líder comunitário Ocimar Santos, 44 anos, foi quem contou a Zero Hora por telefone, ontem à tarde, como era a Rocinha dominada pelo crime organizado. Aliviado e otimista com o futuro, ele disse que os moradores estão apoiando, comemorando e colaborando com a operação. Para Santos, que vive na favela desde que nasceu e é integrante da ONG Rocinha.org, era mais do que obrigação do Estado ocupar a favela, que tem 100 mil habitantes.

– A melhor coisa do mundo é não falar mais do tráfico de drogas, isso ficou para trás. A sensação que toda a comunidade tem é de que o cronômetro foi zerado, uma nova vida – festeja.

Moradora por seis anos da Rocinha, uma gaúcha de Caxias do Sul que pediu para não ser identificada contou que a presença dos bandidos pelas ruas era cena rotineira:

– Existia um regulamento a ser seguido, mas ninguém chega para ti e diz claramente.

Operação policial não teve resistência

Ainda escuro, por volta das 4h10min, o silêncio do início de domingo na Rocinha foi quebrado pelo rumor das esteiras mecânicas dos carros de combate da Marinha. Os três primeiros saíram do Túnel Zuzu Angel e margearam a Rocinha até começar a subida pela Estrada da Gávea – onde traficantes haviam derramado barris de óleo para atrapalhar o avanço dos veículos. Cinco minutos depois, entraram em ação os primeiros três dos sete helicópteros das polícias.

A operação, batizada de Choque de Paz, contou com cerca de 3 mil policiais e integrantes das Forças Armadas. Rapidamente, a Rocinha foi ocupada. Não fosse a prisão de Igor Tomás da Silva, 29 anos, foragido de Bangu 8 e que, na madrugada, saiu carregado da comunidade alcoolizado, a operação teria ocorrido sem ocorrências.

Favela receberá a 19ª UPP do Rio de Janeiro

Às 6h, o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) já anunciava ter ocupado toda a favela. O sucesso da operação foi confirmado pelo chefe do Estado Maior da PM, coronel Alberto Pinheiro Neto, uma hora depois. Por volta das 11h, os helicópteros da polícia despejaram folhetos sobre a comunidade incentivando os moradores a denunciar a presença de traficantes, drogas e armas escondidas.

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, disse que as forças estaduais de segurança vão permanecer na favela até a instalação definitiva da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), a 19ª do Estado do Rio, em data ainda não definida.

O desafio do Estado será ocupar, no dia a dia dos moradores, o espaço que o traficante Nem e seu assistencialismo mantinham na região. O chefe do tráfico explorava os serviços clandestinos de gás, transporte alternativo e TV a cabo. Em cada um deles, ganhava um percentual. Investia o lucro desses serviços em construção de imóveis na própria comunidade.

Há décadas sob o domínio do tráfico, alguns moradores observam com desconfiança a mudança de comando especialmente quanto ao futuro desses serviços na comunidade.

O presidente do Instituto Pereira Passos (IPP-Rio), Ricardo Henriques, responsável pela UPP Social, disse que a meta principal neste momento é a regularização dos serviços básicos. Na manhã de hoje, devem entrar na comunidade caminhões para coleta de lixo. As aulas nas escolas locais serão retomadas na quarta-feira.

Polícia encontra cemitério clandestino no Vidigal

Além da Rocinha, outras duas favelas dominadas pelo tráfico há mais de 30 anos foram ocupadas ontem: Vidigal e Chácara do Céu.

Nas apreensões, homens do Bope encontraram, além de drogas, armas – entre elas uma usada pelo traficante Nem –, munições e até equipamentos de uma central de TV a cabo clandestina.

No Vidigal, também foram encontradas ossadas enterradas no alto da favela. Os policiais receberam informações de moradores a respeito de um cemitério clandestino e usaram cães farejadores para identificar o local.

Luxo em meio aos casebres



A segunda escadaria da Rua 2, na parte alta da favela da Rocinha, é composta por barracos e casebres muito pobres. O fim desse corredor de miséria, no entanto, esconde um imóvel de três andares, com ar condicionado, piscina, banheira de hidromassagem e eletrodomésticos de primeira linha.

A casa pertencia ao traficante Sandro Luiz de Paula Amorim, o Peixe ou Lindinho, ex-chefe da quadrilha que dominava o Complexo de São Carlos, no Centro, e um dos cinco traficantes presos na última quarta-feira, quando tentavam escapar da Rocinha escoltados por três policiais civis e dois ex-policiais militares – que também foram para a cadeia.

Por fora, a casa não se diferencia das demais residências da área. O luxo estava no interior do imóvel.

Outro exemplo da ostentação dos traficantes foi relatado por moradores da Rocinha. Segundo eles, nos últimos dias como “dono da favela”, o traficante Nem, preso na semana passada, deu cinco dias de festas regadas a cerveja com a intenção de se despedir da comunidade.



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