PACIFICAÇÃO - "CONDOMÍNIO DO TRÁFICO" É LIBERTADO
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PACIFICAÇÃO - "CONDOMÍNIO DO TRÁFICO" É LIBERTADO



A libertação da Chácara, o ‘condomínio do tráfico'. Moradores de classe média viram, ao longo dos anos, criminosos invadirem seu espaço, negociando drogas e desfilando de fuzis em veículos roubados - POR LESLIE LEITÃO, O DIA, 08/02/2011

Rio - A ocupação das nove favelas do Estácio, Catumbi, Rio Comprido e Santa Teresa trouxe alívio para cerca de 600 famílias que, no fim dos anos 60, se reuniram em busca do sonho de viver num refúgio tranquilo perto do Centro. Há pelo menos uma década, no entanto, a paz no condomínio Chácara tinha virado um pesadelo, com um desfile de traficantes armados de fuzis em carros e motos roubadas.

Criado no dia 22 de julho de 1967, conforme registra a ata do condomínio, a Chácara fica na subida para Santa Teresa. Aos poucos, os moradores acompanharam o crescimento dos vizinhos morros dos Prazeres, do Fogueteiro e Escondidinho. E a invasão dos criminosos.

“Eles passaram a não respeitar ninguém. Vendiam drogas, fumavam maconha na porta de qualquer um, faziam xixi no meio da rua, ouviam música alta. E tudo ficou pior depois do início da instalação das UPPs, porque bandidos de outras áreas vieram pra cá”, contou um aposentado, morador do local desde a construção das primeiras casas.

Um passeio pelo condomínio revela um pouco do drama dos últimos anos e do sentimento atual. “Só 5% das pessoas continuavam pagando a taxa de condomínio, que é de apenas R$ 10”, revelou Fátima Cordeiro, secretária da administradora da Chácara. Moradores admitem ter parado de pagar. “O lugar ficou completamente abandonado, à mercê de criminosos que faziam o que queriam”, desabafou um deles.

Traficantes dos morros Fallet e Fogueteiro teriam passaram a morar dentro da Chácara. Um deles, identificado como Xuxa Gordo, teria feito sua mudança de lá há poucos dias, fugindo da UPP.

Proprietários das confortáveis casas nas ruas de paralelepípedo do condomínio viram seus imóveis se desvalorizar. O motorista X., por exemplo, paga R$ 450 de aluguel numa casa de três quartos — valor muito inferior à média do mercado na região. Uma residência de três andares, na Rua Lírio Branco, está à venda por R$ 400 mil. Até domingo, não havia comprador. “Agora, com a UPP, talvez seja mais fácil”, diz um corretor.

Ontem à tarde, policiais do Batalhão de Operações (Bope) encontraram um fuzil AK-47, abandonado em um terreno no Morro de São Carlos, no Estácio.

Governo federal exportará programa a outros estados

Um grupo de 22 pessoas da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) chegou ontem ao Rio para conhecer mais detalhes do projeto das UPPs. O governo federal já possui verba destinada à implantação de 30 unidades pelo país.

Na Bahia, o governo do estado anunciou a criação, até o fim do ano, de uma UPP no bairro Nordeste de Amaralina, em Salvador, para tentar conter a violência.

Ontem, o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, foi homenageado em um encontro de empresários pelo trabalho de pacificação de comunidades antes dominadas pelo tráfico. Ao comentar sobre a ocupação de nove favelas iniciada domingo, Beltrame frisou que ainda há muito trabalho a ser feito.

Presente no evento, o governador Sérgio Cabral ressaltou a importância da homenagem no dia seguinte à ação em Santa Teresa, Catumbi, Rio Comprido e Estácio. “Libertamos pessoas que ganham outros valores. Essas comunidades deixam de ser refúgios para atos ilícitos cometidos em vários cantos da cidade”.

Carro da prefeitura abandonado

Policiais rebocaram ontem uma picape S-10 branca, abandonada desde novembro, que já vinha incomodando moradores da Chácara. Ontem, a polícia chegou a checar se o carro, com marcas de adesivos da Guarda Municipal, havia sido roubado. O que acabou não se confirmando. O carro está em nome da Subprefeitura do Centro.

O órgão alegou que o veículo só estava há dez dias no local, para onde havia sido levado para reparos mecânicos numa oficina. “Não é verdade. Ele está abandonado aqui há meses”, afirmou um morador da Rua Lírio Branco.



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