O PODER DO TRAFICANTE ACABOU
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O PODER DO TRAFICANTE ACABOU




ENTREVISTA. “O poder do traficante acabou”. Coronel Erir Ribeiro Costa Filho, comandante-geral da Polícia Militar do Rio - FRANCISCO AMORIM, zero hora 18/11/2011

Há quatro anos, depois de assumir a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, o gaúcho José Mariano Beltrame garantiu ao então comandante do Batalhão de Choque, tenente-coronel Erir Ribeiro Costa Filho, que um dia o oficial seria o comandante-geral da PM fluminense. Em setembro, Costa Filho, agora coronel, assumiu o posto máximo da corporação, tendo como sua primeira grande missão planejar a ocupação das favelas da Rocinha e do Vidigal. O oficial contou detalhes da ação a colegas de farda em encontro de comandantes de PMs de todo o Brasil, evento que ocorre até hoje na Capital. Ontem, Costa Filho conversou com ZH:

Zero Hora – A ocupação da Rocinha se deu sem nenhum disparo de arma de fogo, em uma situação diferente da ocupação do Complexo do Alemão. Ao que o senhor atribui essa diferença?

Erir Ribeiro Costa Filho – A Rocinha é a 19ª retomada. Aprendemos com as outras 18. Então, vamos nos aperfeiçoando. E, no caso da Rocinha e do Vidigal, a ação se iniciou em 1º de novembro com operações pontuais nas comunidades da mesma facção que controlava a Rocinha. Então, eles não tinham para onde ir. E aqueles que conseguiram entrar nessas comunidades, acabaram presos. E teve o cerco, com acompanhamento das áreas de inteligência da PM, da Civil, da Federal, na Rocinha. A ação que levou à prisão do Nem (Antônio Bonfim Lopes, 35 anos, chefe do tráfico), por exemplo, ocorreu a partir da determinação do secretário Beltrame (José Mariano Beltrame, secretário de Segurança Pública) de parar e revistar qualquer carro que descesse da Rocinha, inclusive, viaturas e ambulâncias.

ZH – Essas ações têm espantado traficantes de áreas conflagradas, mas é possível falar em se acabar com o tráfico nas favelas do Rio?

Costa Filho – O tráfico de drogas não acaba em lugar nenhum do mundo. Os Estados Unidos gastam uma fortuna, por exemplo, e não conseguem. O que nós esperamos é acabar com o fuzil na favela, que eles (traficantes) continuem a achar que são donos daquele território. A Rocinha: lá vai zerar o tráfico de drogas? Não. É uma cidade! Mas o poder do traficante de prender, julgar e dar sentença de morte, isso acabou.

ZH – Armas nas mãos de traficantes que conseguiram escapar ao cerco podem ser vendidas para criminosos de outros Estados, como modo de os grupos se recapitalizarem depois das perdas geradas pelas recentes ocupações das favelas cariocas? Podemos ter uma enxurrada de fuzis em Estados vizinhos?

Costa Filho – Não acredito. Pode até ser, mas a tendência é de que elas sejam guardadas, pois elas representam poder. Vender para comprar depois não me parece um bom negócio. E o Rio não fabrica armas. Elas vêm da fronteira.

ZH – Que experiências podem servir de exemplo para outros Estados para evitar que o tráfico se aproprie de espaços públicos?

Costa Filho – Primeiro que o combate ao tráfico depende da própria sociedade. No caso da Rocinha, parte das apreensões e das prisões ocorreu agora com apoio da comunidade, com denúncias de moradores. Isso tem de ser sempre. Fora isso, uma política voltada ao combate ao tráfico. Tem de ser algo de governo. Tivemos governantes que botavam comandantes de batalhão, nomeavam titulares de delegacia. Faltava o critério técnico. Deputados faziam isso. O Beltrame, nosso secretário, não é político, por exemplo. E quem escolhe comandante de batalhão é o comandante-geral. E o comandante-geral é responsável por suas escolhas, pelos erros cometidos em uma má escolha.

ZH – O senhor assume o cargo deixado pelo coronel Mário Sérgio Duarte, que tomou para si a responsabilidade da escolha do tenente-coronel Cláudio Oliveira (suspeito de ser o mandante da morte da juíza Patrícia Acioli) para assumir o comando do 7º BPM. Neste cenário, como o senhor está enfrentando o problema da corrupção policial? É uma questão apenas de salário?

Costa Filho – Para mim, é uma questão de índole. Milhões de brasileiros ganham salário mínimo e não viram bandidos. Temos de combater a corrupção. É preciso ter uma corregedoria forte, mas eu estou conversando muito com a tropa. É preciso ser o mais claro possível com soldados e oficiais sobre o que queremos para nossa instituição. O erro maior está com os oficiais. Se o oficial não der o exemplo, como você vai seguir?

ZH – As UPPs já foram alvo de críticas, devido a excessos policiais e corrupção. Como o senhor tenta contornar esses problemas?

Costa Filho – Atualmente, nas UPPs estão PMs recém-formados. Os oficiais também são preparados para o policiamento comunitário, com o intuito de se aproximar dos moradores. Daqui a pouco nós temos de aposentar os fuzis em algumas áreas que já têm UPP e não haja mais necessidade.

ZH – Com essas ocupações realizadas neste ano, que criam uma espécie de anel de segurança em torno do Maracanã, o que falta para a Copa do Mundo?

Costa Filho – Já tivemos o Panamericano com sucesso no Rio. Eu tenho certeza que não só o Rio, mas todo o Brasil estará preparado para o evento.

ZH – E qual sua visão sobre a Brigada Militar e sua atuação no Rio Grande do Sul?

Costa Filho – É um instituição com quase 200 anos. Tem tradição e uma história que orgulha. É espelho. Vejo que, além do policiamento das ruas, há uma preocupação com a fronteira e uma integração com as polícias de outros países no combate ao tráfico e ao contrabando.

ZH – E qual sua opinião sobre a campanha de Fernando Henrique Cardoso sobre a descriminalização da maconha? Que impacto poderia ter no tráfico?

Costa Filho – Sobre isso não posso tecer opinião.

O que são UPPs

- Criadas pela atual gestão da Secretaria de Segurança Pública a partir de 2008, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) trabalham com princípios da polícia comunitária em áreas dominadas pelo tráfico. Na foto acima, a ocupação do Complexo do Alemão.

- A Rocinha, recém-ocupada no domingo passado pelas forças policiais, terá a 19ª UPP.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Será que acabou mesmo? A frase do Comandante tem valor como força e estímulo na árdua luta pela pacificação no Rio. O poder dos traficantes só acabará no dia em que o Brasil tiver em sua defesa Poderes probos, morais e diligentes com o interesse público e com a paz social. A polícia sozinha jamais conseguirá deter, reduzir ou limitar a ação do tráfico, pois precisa de segurança jurídica, salários justos, condições de trabalho, harmonia do sistema de ordem pública e envolvimento dos congressistas na elaboração de leis rigorosas, de uma justiça ágil e coativa, e de governantes determinados a combater o crime investindo pesado em saúde, educação e segurança.



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